Acaba de se dar a saída, da cena política da Alemanha, da Europa e do Mundo político, da chanceler Angela Merkel. Foram 16 anos consecutivos de governo depois de ter sucedido a Gerhard Schroder. Termina assim uma governação que permitiu à Alemanha ser o motor impulsionador da economia da União Europeia.
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Soube ser a líder do eixo Paris-Berlim, procurando manter a coesão social e económica da Europa na afirmação de uma união política muito controlada. Conseguiu dar uma resposta para a crise dos refugiados e das dívidas soberanas e ajudou a impulsionar o combate à crise da pandemia da covid-19.
Acabou por assistir à saída do Reino Unido da União e acompanhou a crise do Pacto do Atlântico, motivada pela política externa americana, da Administração de Donald Trump.
Na ajuda a Portugal, durante a crise das nossas finanças públicas, foi decisiva a manter controlado os desejos do seu, então, ministro das Finanças, Wolfgang Schauble.
Podemos questionar se conseguirá ficar na História da Europa e do Mundo ao lado dos seus mais marcantes antecessores, como Konrad Adenauer, Willy Brandt, Helmut Schmidt ou Helmut Kohl.
Contudo ficará como uma convicta cidadã europeia que soube defender o euro durante uma das suas mais vigorosas crises. Será também alguém que conseguiu estar atenta à política de defesa da Europa e teve um papel central nas negociações do Tratado de Berlim e na declaração de Berlim.
Veio da Alemanha de Leste, luterana, formada em química quântica e viu a queda do Muro de Berlim. Viveu na extinta RDA e sabe, como poucos, o que é viver em ditadura comunista.
De seguida colaborou com Helmut Kohl e foi sua ministra do Ambiente, mas também o deixou cair.
Ganhou eleições sucessivamente e fez coligações com a aliada da União Social Cristã (CSU), mas também com o Partido Democrático Liberal (FDP) e, finalmente, firmou a grande coligação com o Partido Social Democrata (SPD).
Depois desses 16 anos o resultado eleitoral foi um empate que mostra que o seu ministro das Finanças, o social-democrata Olaf Scholz, pode ascender à sua sucessão, na liderança do Governo, em coligação com Verdes e Liberais.
Ao deixar a grande política, onde andou nas últimas duas décadas, Merkel deixa, também, inevitavelmente um legado. Compete agora à história julgar o seu trabalho e deixar que o tempo faça o balanço desse exercício do poder.
Uma nota final de agradecimento por tudo o que fez pela Europa. De certeza que leva consigo o pesar de deixar na oposição o seu partido.
Os alemães optaram por um novo ciclo político.
*Professor universitário de Ciência Política