Angola afirma-se como uma potência regional no espaço do continente africano.
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Desde a independência, em 1975, tem sido governada pelo MPLA. Fruto da Guerra Fria e da influência soviética, podemos dizer que Angola entrou na segunda metade do século XX a viver um ciclo de alternância de modelos económicos, sociais e políticos sempre com a influência do MPLA.
Primeiro o ciclo da guerra de libertação nacional, a partir de 1961, que implicou uma direta intervenção de Salazar e uma mobilização portuguesa em volta da antiga colónia com um refrão que era conhecido de muitos portugueses: o "Angola é nossa".
A Guerra do Ultramar, na versão portuguesa, colocou as Forças Armadas portuguesas num combate contra três movimentos de libertação nacional: o MPLA, a FNLA e a UNITA. Após o 25 de Abril de 1974 e no sentido de dar expressão à força dos movimentos, Portugal tentou, na Cimeira do Alvor, procurar uma solução para um processo de transição para a independência. Gorada que foi esta oportunidade, a 11 de novembro de 1975, o MPLA proclamou a independência e atirou o país para uma primeira guerra civil contra a UNITA. Desde então e até ao final da URSS, em 1991, Angola viveu um ambiente de guerra e de pobreza das suas populações. Com o acordo de Bicesse, foi possível interromper essa guerra e procurar implementar um sistema político democrático.
Então, depois da morte de Agostinho Neto, ponderavam na vida política de Angola dois nomes: José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi.
Regressada rapidamente, de novo, à guerra civil, a segunda, Angola viveu um simulacro de democracia onde as riquezas do povo angolano aparentemente foram usadas por uma oligarquia a seu favor.
Em fevereiro de 2002, esta segunda guerra civil termina com a morte, em combate, de Jonas Savimbi e o regime de Luanda, perante o fim da Guerra Fria e a nova geopolítica mundial, vê-se obrigado a reconhecer algumas regras do jogo democrático.
Em paralelo a tudo isto, vamos assistir a um desenvolvimento da capacidade empresarial de alguns líderes políticos e militares, nomeadamente com as suas ligações a Portugal, cujos resultados ficaram evidentes, como foram qualificados, de uma forma irritante. Não vamos entrar agora em pormenores, porque isso são contas da justiça quer de Angola quer de Portugal.
Resta dizer que, neste longo espaço de quase quatro décadas, um nome vai acompanhar este processo: José Eduardo dos Santos. Faleceu na última semana e, agora morto, ironicamente vai fazer mais sombra ao seu sucessor João Lourenço. Desaparece a cerca de um mês das eleições em Angola e com ele morre uma parte grande do velho MPLA.
Surge aqui uma oportunidade para Adalberto Costa Júnior, o candidato da UNITA à chefia do Estado. Um político sem compromissos com o passado destas elites angolanas e alguém preocupado com uma Angola à procura do seu lugar na comunidade internacional. Uma Angola que seja respeitada e voltada para o povo angolano, quer domesticamente quer na sua diáspora. Em agosto, o povo angolano tem uma oportunidade para mudar de ciclo político.
*Professor universitário de Ciência Política