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Depois do vexame público a que o sistema prisional português foi votado, após a fuga cinematográfica de cinco cadastrados de Vale de Judeus, seguiu-se o corridinho habitual: expiação de culpas, demissões, abertura de inquéritos e radiografia detalhada de um sistema com falhas estruturais e vícios de décadas. Portugal virou anedota internacional. E a convicção que foi crescendo entre o senso comum foi a de que muito dificilmente as autoridades iam ser capazes de devolver os perigosos evadidos ao lugar de onde nunca deviam ter saído. Pelo cadastro acumulado das criaturas, mas em particular pela vantagem que levavam em relação à Polícia.
A missão de resgatar a dignidade perdida do Estado ainda está longe de ser alcançada. Porém, é justo reconhecer o bom trabalho que a Polícia Judiciária e a GNR têm desempenhado na localização e detenção destes perigosos foragidos. Ainda há três homens a monte, e nada nos garante que venham a ser intercetados, mas o trabalho laborioso e discreto das nossas forças policiais que permitiu localizar dois deles é tudo o que nos resta para tentar devolver alguma ética republicana ao regime, num esforço de mitigação que, ainda assim, não apagará uma nódoa que ficará para a história.
Bater na Polícia virou uma espécie de desporto nacional não federado, numa discussão apaixonada onde se tende a misturar o acessório e o essencial. É verdade que não devemos baixar o nível de exigência para com as nossas forças policiais, fazendo com que cumpram a lei e a decência, mas este é o momento de registarmos que, apesar de todas as convulsões à sua volta, há homens e mulheres que todos os dias dão provas de que, sem eles, isto seria bem pior.