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O inferno que, em poucos dias, assolou as regiões Norte e Centro, ceifando vidas, empresas e engolindo cerca de 90 mil hectares, não apenas de floresta e de matos, mas também de áreas periurbanas e habitacionais, às portas de cidades como Gondomar, Oliveira de Azeméis, Aveiro e Águeda, voltou a tornar evidente, para além da demência ou da criminalidade humana, muitas coisas importantes, como os devastadores efeitos das alterações climáticas, a insuficiência de meios de resposta para o gigantismo e a velocidade de propagação dos fogos, ou a importância de um reforço da arquitetura regional das políticas públicas de gestão do território, nomeadamente da florestal, e de proteção civil. Confirmou, ainda, outra realidade incontornável: quando tudo falha, quando o caos se instala, quando a organização e dispositivo do Estado não chegam a tempo, são os autarcas quem assume a centralidade na ação, seja na mobilização de meios locais e no apoio aos “cidadãos voluntários”, no contacto com as autoridades nacionais e o Governo, na informação de proximidade às populações, no socorro em situações de risco, a famílias desalojadas ou enlutadas, ou ainda na pragmática contabilidade dos prejuízos públicos e privados registados. Os autarcas - presidentes de câmara municipal ou de junta de freguesia e suas equipas - são aqueles a quem não é perdoada uma ausência, e a quem não será perdoado falhar. Serão eles, de resto, os primeiros (e talvez os últimos) a dar a cara se ocorrerem falhas e atrasos nas compensações devidas a cidadãos e empresas. No lugar que ocupo, na liderança da CCDR-Norte, sou um interlocutor e um observador privilegiado da sua ação - e o meu mais forte compromisso só pode ser, também por isto, o de interpretar as responsabilidades que assumem, olhos nos olhos com as populações, dando-lhes um justo acolhimento na esfera dos poderes e meios de intervenção de que a CCDR-Norte dispõe.
Entre os “especialistas” a consultar numa política de resposta estruturada e séria ao flagelo dos fogos, os autarcas deverão estar numa fileira destacada. Eles conhecem como poucos, por força desse atributo que é a proximidade, a diversidade de que é feito o ordenamento do seu território, a sua paisagem agroflorestal e o conjunto de recursos operacionais que poderão ser convocados num determinado tempo e lugar. Até porque o autarca em modo “bombeiro”, ao lado de uma população de mangueira, enxada ou ramagem na mão, não é vida que se tenha, nem administração local que se deseje.