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Por vezes gostava mais de ser espectador do que adepto. Para o espectador de futebol tudo é circunstancial, às vezes mesmo até acessório, mas para o adepto tudo ganha foros de um definitivo contínuo, que chega mesmo a irritar quem o sente.
O Vitória não tem espectadores, tem adeptos. Seja em Guimarães ou na China, onde se respire vitorianismo, a passividade é uma abstração. Lembro-me de um tio meu, no Brasil, ainda eu estava a entrar na adolescência, e de como ele me chamava para ouvirmos, os dois, os resultados do campeonato português, na era em que a informação era lenta e vagarosa. E lembro da forma de como aquele resultado, ditado pelo doce português de um brasileiro, de quem nos informava e dizia sempre um pouco mais do que o que era dito. Essa é a sina do adepto: mesmo não vendo, imagina e sofre ou rejubila como se visse.
Vem isto a propósito do nosso jogo em que vi apenas os nossos golos, pois no meio do Atlântico, na belíssima cidade de Ponta Delgada, fui assistindo ao nosso desafio. Comecei a ver já perdíamos e deixei de ver quando ainda ganhávamos. O Atlântico compadece-se do adepto e só a enjoativa rapidez da informação silvada pelo telemóvel estraga a realidade real. Empatamos, paciência. Mas no decorrer do que vi assisti a bons golos, boas jogadas e aos meus conterrâneos saltando em adeptas euforias.
Salvou-se, um pouco antes, o peixe-porco, a raia, o bodião e o alfonsim grelhados de forma impecável por mãos treinadas na dureza do Atlântico, na pequena localidade da Caloura.
*Adepto do Vitória