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Até onde pode ir o desejo político de querer o Poder? Os políticos moderados arriscam-se a perder as eleições para os políticos que usam a mentira e a divisão como a sua principal razão de atuação junto dos eleitores.
Num tempo onde a democracia representativa sofre com a chamada democracia direta, das redes sociais, e com as interferências que a inteligência artificial proporciona, estamos, cada vez mais, a ser confrontados com múltiplas teses radicais que colocam em causa os princípios básicos de qualquer sistema político democrático.
Os Estados Unidos e a França, duas das mais importantes nações da geoestratégia mundial, arriscam-se a eleger simpatizantes do senhor Putin ou aliados subtis do isolacionismo que este nacionalismo desenvolve recorrendo à divulgação de falsos amanhãs ou a repetidas mentiras.
O último debate entre o presidente Joe Biden e o antigo presidente Donald Trump deixou bem claro o atual nível das lideranças americanas. De um lado, um presidente democrata bem-intencionado, mas cuja idade não apaga as suas evidentes dificuldades para o futuro exercício do cargo. Ficou assim evidenciado que a vice-presidente Kamala Harris ou mesmo o secretário de Estado Antony Blinken poderiam fazer um melhor lugar. Do outro lado, esteve alguém que mostrou como é errático e está a mostrar o pior da sociedade americana. Alguém que não sabe respeitar a tradição presidencial como o fez George W. Bush ou Barack Obama.
Em França, o presidente Emanuel Macron, na sequência das eleições europeias, decidiu convocar eleições antecipadas para afastar a dinâmica de vitória da União Nacional da senhora Le Pen. Afinal, parece que acabou por legitimar as ambições para governar a França pela extrema-direita e, ao mesmo tempo, a possibilidade de esta vencer as próximas presidenciais. Pese embora a tentativa de rejuvenescimento dos atores políticos, a França continua longe do sentido dos partidos de De Gaulle ou de Mitterrand porque não se soube preparar para os novos desafios dos nossos tempos. Com estes resultados, em França, a própria União Europeia pode ficar em crise.
Em causa está a necessária reflexão que os partidos de centro-direita ou de centro-esquerda precisam de fazer perante estes extremismos. A França evidencia que a alternativa é só entre a extrema-direita da União Nacional e a extrema-esquerda da Frente Popular.
Em Portugal, seria importante começar já a refletir sobre estas situações que parecem alastrar na Europa e nos Estados Unidos. Compete às lideranças do PSD e do PS darem o seu contributo para a interpretação de todas estas situações.