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Aos cinquenta anos da cultura hip-hop, o breaking ganha lugar nos Jogos Olímpicos e eu surpreendi-me com a minha emoção ao ver o acontecimento em direto, excitadíssima com a façanha da minha tribo. Aquilo que começou como uma manifestação subcultural na Nova Iorque dos anos 70, a par do rap, do graffiti e do DJ’ing, tem agora o devido reconhecimento como modalidade olímpica.
Desde o boom do break nos anos 80, na TV e no cinema, que o público mais mainstream não estava exposto ao break numa montra tão popular. E o melhor é que a estreia não só correu muito bem, dado o elevadíssimo nível dos participantes, como foi uma festa! Desde logo, começou com Snoop Dogg a dar as três pancadas de Molière no oleado, para inaugurar uma competição feminina de alto nível, que contou com Vanessa Marina (representando Portugal).
A variedade de origens das atletas, incluindo uma B-Girl do Afeganistão, demonstra bem a abrangência e o impacto do breaking (e do hip-hop em geral) nas várias regiões do planeta. Mas gostei, sobretudo, que tenha sido mantido o espírito da cultura mesmo no âmbito dos Jogos, conservando-se a denominação B-Girl e B-Boy para os participantes, tendo dois mestres de cerimónia (um deles português, o Max da Momentum Crew), animando o público e fazendo as apresentações, mais dois DJ’s a passar clássicos durante as batalhas e nos intervalos, tudo diante de um cenário alusivo às “boom boxes” que costumam amplificar a banda sonora nas rodas informais de break de rua.
Fiquei orgulhosa pelo exemplo de festa, de bom ambiente, de desportivismo e de espetáculo que estas duas tardes de breaking proporcionaram e ocorreu-me muitas vezes que se houvesse MC’s e DJ’s a animar outras modalidades, seria muito mais divertido assistir a algumas provas mais monótonas e com tempos mortos. Sendo que no caso do breaking, não houve espaço para bocejos, com prestações eletrizantes e espetaculares, de grande exigência técnica e acrobática, round após round.
Ora eu, que eu era pequenina nos anos 80 e rodava de rabo no chão enquanto dizia que aquilo era “brinc dance” e que era adolescente no Porto dos anos 90, quando os primeiros B-boys mostravam os seus “skills” na pista de dança, para meu total espanto e admiração, e que agora que sou uma mulher adulta a ver batalhas de break nos Jogos Olímpicos, apercebo-me que me emocionei mais com esta façanha histórica da cultura hip-hop, do que com qualquer medalha que Portugal tenha conquistado. Realmente, o “patriotismo” de cada um é sempre subjetivo e complexo.