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Em São Miguel de Seide, envolvidos pela ruralidade mágica que ressoa na obra e correspondência do escritor, e pelo perfume que exala da Casa de Camilo e do Centro de Estudos, projetado por Siza, 21 instituições constituíram há dias uma esperançosa parceria para a celebração do bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco. Esta constelação agrega municípios, universidades, fundações e outras instituições de diferente natureza, incluindo o Tribunal da Relação do Porto, sendo testemunho da memória e da presença reticulada de Camilo na geografia nortenha.
Por força da sua vida atribulada, das crises de saúde e do seu caráter passional e “indomável”, como cunhou Fialho de Almeida, o Norte tornou-se casa, abrigo, escola, escritório, cárcere e campo de batalhas de Camilo, ao longo da sua vida, ora afeiçoando-se, ora impacientando-se. Ao abrir uma das suas mais de 150 obras, esbarra-se com relatos de lugares, paisagens e gentes nortenhas: do Marão, do Alvão e das margens do Tâmega; da aldeia de Vilarinho de Samardã; de Cavez, em Cabeceiras de Basto; da Granja Velha em Ribeira de Pena; da Quinta do Ermo em Fafe; da mata do Bom Jesus em Braga; e dos ares da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, a territorialidade de Camilo é categórica e profundamente pulverizada.
O mapa do Norte confunde-se com a topografia literária e de vida de Camilo. Isso não o torna menos universal, na grandeza e genialidade como, para além de lugares, descreve pessoas e as suas interações. Mulheres e homens que foram daqui, vistos a partir de um pensar atual, como descrito pelas suas próprias palavras: “A civilização é a liberdade das pessoas e das coisas: bole com tudo, toca em todos os sentimentos, entra nos juízos da cabeça, e enraíza-se nas aspirações da alma”.
Certamente não o queremos só para nós, mas não deixamos de interpretar a nossa responsabilidade como depositários de uma memória e como administradores de um património literário poderoso. Nos planos cultural, artístico, educativo ou turístico, Camilo constitui um valor com a mesma força do seu caráter intempestivo e passional.
Também a pensar em Camilo, a CCDR Norte e o Turismo do Porto e Norte constituíram as “Rotas do Norte”, elegendo os “Escritores a Norte” como um desses itinerários de turismo cultural.
Somos 27, mas os projetos e realizações multiplicarão a dimensão deste universo, alcançando mais eficazmente aqueles que são os destinatários de tudo: os novos leitores e os novos “camilianos”.