Centralismo e o fosso salarial
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Portugal está a tornar-se num país onde o código postal dita o destino de cada jovem. Quem trabalha em Lisboa ganha, em média, mais 335 euros do que no Porto e mais 643 euros do que em Bragança. Este fosso salarial cresce ano após ano, aprofunda desigualdades, concentra oportunidades na capital e condena os jovens do resto do país a partir, mesmo quando querem ficar. Portugal é o terceiro país da União Europeia com menor rácio de despesa pública subnacional em percentagem da despesa nacional, ou seja, o terceiro país mais centralizado. Este centralismo sufoca o futuro. Os jovens são empurrados para Lisboa, onde enfrentam custos de vida elevados e rendas insustentáveis. As cidades de origem perdem dinamismo, capacidade de reter talento e o elevador social continua estagnado. O centralismo é um perigoso ciclo vicioso: onde não há pessoas, não há votos; onde não há votos, não há investimento; e onde não há investimento, não há pessoas. Não se trata de culpar Lisboa, mas em reconhecer que o país não aguenta um modelo que concentra quase tudo num só ponto, enquanto o Interior e o Norte perdem habitantes, talento e capacidade de atrair empresas. Falta coragem política. São necessárias políticas públicas que descentralizem serviços, reforcem infraestruturas e levem o poder político, as empresas e inovação para fora da capital, corrigindo o fosso salarial que se tornou uma barreira ao desenvolvimento. Se Portugal quer ter futuro, tem de deixar de ser um país de oportunidades para poucos e sacrifícios para muitos. Temos de descentralizar Portugal.