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A escola a tempo inteiro, em Portugal, continua a atrair as atenções de governantes de outros países e de organizações internacionais, enquanto caso exemplar. Recentemente, promoveram reuniões e visitas sobre o tema entidades tão diversas como a Organização dos Estados Ibero-Americanos ou o Governo da Catalunha.
O programa, iniciado há 15 anos, estendeu o horário de funcionamento das escolas de primeiro ciclo até às 17 horas e passou a oferecer a todas as crianças acesso à aprendizagem de inglês, música, teatro, atividades físicas e desportivas, bem como apoio ao estudo individual. O seu carácter exemplar manifestou-se quer na melhoria das condições de igualdade de oportunidades no acesso aos recursos educacionais, quer na forma como se adequou o funcionamento das escolas às realidades de trabalho das famílias.
Esta medida mudou a vida na maioria das escolas. Associada à construção e requalificação dos edifícios, contribuiu para a modernização dos espaços de ensino e aprendizagem, ou seja, para a melhoria do ambiente de socialização das nossas crianças. Precisamos de conhecer o seu impacto no percurso escolar dos alunos.
Há mais de 15 anos, o sucesso da sua generalização e a qualidade do serviço prestado resultaram do envolvimento das autarquias, das associações de pais, das associações de professores e dos diretores de agrupamentos de escolas. Resultaram, ainda, da mobilização de recursos financeiros do Ministério da Educação e de recursos organizacionais existentes nos diferentes contextos escolares.
Hoje, a escola a tempo inteiro está, em muitos casos, reduzida a quase nada. Em todas as escolas se mantém o funcionamento até, pelo menos, às 17 horas, e em todas se oferece a refeição escolar. Contudo, a qualidade das atividades proporcionadas aos alunos entrou demasiadas vezes em tal degradação que tem decrescido o número de alunos e famílias que usufruem deste serviço alargado de educação. Também a escola a tempo inteiro foi vítima da troica, tendo sido reduzido o apoio financeiro do Ministério da Educação para cerca de 1/3, sem que, entretanto, tenha havido recuperação do corte.
Felizmente, há também muitos casos em que a escola a tempo inteiro se mantém de elevada qualidade, com experiências muito interessantes de diversificação das atividades oferecidas.
Porém, o segredo destas escolas reside quase sempre no apoio proporcionado pelas autarquias ou o envolvimento das associações de pais. É apenas mais um caso que ilustra a importância da descentralização de competências e de recursos, dos ganhos com a proximidade na concretização das políticas sociais, mas também dos benefícios da abertura das escolas à participação e envolvimento dos pais.