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A novela dramática em torno da contratação de Ruben Amorim pelo Manchester United encerra muitas lições, mas talvez a primordial seja mesmo a de que o romantismo no futebol é uma coisa do passado. Dizer isto não significa que se tenha perdido espaço para as paixões clubísticas de uma vida inteira. Ou que as doses cavalares de irracionalidade que toldam o desporto-rei se tenham sumido. A realidade é que o futebol de hoje não se compadece com estados de alma. A indústria da bola comporta-se como qualquer máquina global de fazer dinheiro: procura os melhores executantes e, sobretudo, aqueles que mais depressa podem fazer multiplicar o sucesso e o lucro. Estejam eles em Portugal ou noutra geografia.
O “trauma” dos sportinguistas e a tristeza de Ruben Amorim na hora do adeus são, por isso, pitadas delicodoces nesta fatalidade que atinge com maior força os países periféricos como o nosso. Estamos condenados a exportar talento e competência. Quem nos dera que em outras áreas fôssemos tão vocais e influentes como no futebol. Se virmos com atenção, Portugal tem sido capaz de gerar capital em todos os patamares desta indústria. Dos observadores aos coordenadores da formação, passando pelos gestores de academia e fisioterapeutas, sem falar obviamente dos treinadores, diretores desportivos e jogadores. A nossa pequenez não nos atrapalha. E isto é tão mais surpreendente num contexto em que continuamos a medrar nos rankings da UEFA, incapazes de materializar esse potencial numa real valorização do mercado português. Ontem Mourinho, Villas-Boas e Abel Ferreira, hoje Ruben Amorim. Amanhã haverá outros. Estamos condenados a ver o talento partir. No futebol e no resto.