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Nas últimas duas a três décadas assistimos, de forma crescente e cada vez mais consistente, à concretização de uma das abordagens mais estruturantes da valorização do conhecimento e do ciclo da inovação: a cooperação universidade-indústria.
Como sempre, este caminho não foi globalmente homogéneo, sendo claro que numas geografias esta dinâmica arrancou há mais tempo, de forma determinada e com as lideranças ativamente envolvidas, e noutras o processo foi mais lento e muitas vezes titubeante. Noutras ainda, nunca chegou, verdadeiramente, a arrancar.
É relativamente fácil fazermos hoje a correlação entre estes vários cenários e os resultados obtidos, com manifestas e gritantes vantagens para os primeiros e o contrário para os demais.
Quando falo em manifestas e gritantes vantagens, estou a pensar na geração de riqueza e de prosperidade para as nações envolvidas e para os seus cidadãos, que decorre dos importantes ganhos de competitividade das suas estruturas produtivas.
A Saúde é um caso paradigmático desta realidade, sendo, provavelmente, onde o conceito de open innovation observa maior visibilidade e implementação. Li, algures, que na indústria farmacêutica global, hoje em dia, menos de 30% dos produtos que chegam ao mercado foram inteiramente desenvolvidos “dentro de casa”, em alternativa a uma supremacia crescente das soluções que resultam da cooperação com o mundo universitário e com a sua envolvente, nomeadamente os ecossistemas de inovação onde florescem as spin-offs e as startups.
É uma alteração drasticamente positiva do quadro que conhecíamos há alguns anos, e que fez explodir um mundo de oportunidades que nos desafia a todos. A novela, a que recentemente pudemos assistir quase em direto, em que a pharma #1 (a Pfizer) estabelece uma relação de cooperação com uma pequena empresa alemã, fundada por cientistas de origem turca (a BioNTech), e juntos “salvam” um mundo em pânico, paralisado por uma pandemia devastadora, com uma vacina de elevada eficácia, é, talvez, a mais eloquente ilustração desta abordagem.
No nosso país, os últimos 20 anos testemunharam, em certos segmentos, uma evolução interessante neste domínio, com uma curva de aprendizagem notável, apesar de haver muito caminho para andar. Mais uma vez, a Saúde e as Ciências da Vida são, porventura, os casos de maior sucesso.
Uma evolução ou especialização deste conceito começa, felizmente, a ganhar tração. Estamos a falar do que se vem designando por cooperação indústria-indústria ou cooperação entre concorrentes, o que na linguagem anglo-saxónica aparece geralmente referido por coopetition.
É um patamar mais elevado e mais exigente, mas, julgo, inevitável para a batalha da competitividade. As Agendas Mobilizadoras do PRR, que estão em plena implementação e de onde começaremos a conhecer resultados lá para 2026 e seguintes, são um laboratório vivo desta aposta. Acredito que as expetativas vão ser superadas!