O Papa Francisco é, na Igreja, no Mundo e no nosso tempo um homem único. Detém o carinho e a admiração de crentes e não crentes, que cativou com a personalidade espontânea, brincalhona e humilde, e cujo respeito ganhou pelo seu progressismo, humanismo e clareza.
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Apesar de há muito a igreja ser uma "empresa" global, nunca antes um Papa tinha tido um poder mediático e uma aceitação das massas tão grande. Em Francisco, este poder do apoio popular é real e usado politicamente numa magistratura de influência, num colocar o dedo na ferida, num despertar de mentalidades para um humanismo que se quer global.
Esta semana o Santo Padre esteve na ilha de Lesbos, em visita a um campo de refugiados, e mais uma vez fez, com a acutilância que lhe é conhecida e com o poder da sua palavra, estremecer cidadãos e dirigentes europeus. Provocou-nos com a verdade, nua e crua. Desafiou-nos a ter a coragem de olhar de frente o horror. Despertou-nos a vergonha e incitou-nos a agir. Liderou-nos.
"Olhemos sobretudo os rostos das crianças. Tenhamos a coragem de nos envergonhar à vista delas, que são inocentes e constituem o futuro. (...) Não fujamos apressadamente das cruas imagens dos seus corpinhos estendidos, inertes, nas praias".
Foram estas algumas das palavras do Papa, sobre a crise dos migrantes. Um murro inesperado, certeiro, embalado pela candura da forma, aumentando, assim, a força do impacto sentido.
Nas portas da Europa, o orgulhoso continente da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, vive o terror. Fugidos da injustiça da fome e do mal da guerra, vivem crianças, pais e avós, em campos de refugiados cujas imagens não deixam de recordar os campos de concentração do mais negro tempo da Humanidade. Crianças, pais e avós que esperam por ajuda. Que esperam pela inerte Europa. Que esperam por nós. Crianças, pais e avós de que nos esquecemos na dormência do dia a dia. Num sono cobarde, do qual Francisco, com a doçura do humanismo, lentamente nos faz despertar.
Engenheiro e autarca do PSD