No último domingo teve lugar a primeira volta das eleições presidenciais francesas.
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Sem novidades, Macron ganhou. Vai agora a segunda volta com Le Pen. Os partidos tradicionais como os Republicanos ou o PS tiveram um resultado medíocre. Num tempo de profunda crise a resposta do eleitorado penalizou os partidos moderados e coloca, na segunda volta, uma candidata contra a Europa, que teve oportunidade de elogiar Putin utilizando uma retórica demagógica que os "descamisados" admiram.
O que vemos a acontecer em França também faz o seu lento caminho cá.
O Partido Socialista, do alto da sua maioria absoluta, faz do crescimento do Chega o seu programa de obstrução de modo que o PSD não se consiga afirmar como uma verdadeira alternativa.
Certo é que o PSD, por si só, faz muito para que assim seja. Contínua preocupado e fechado sobre si mesmo, esquecendo os portugueses e o necessário projeto portador de esperança que esses reclamam.
O Mundo mudou, mas o PSD continua a projetar-se para dentro, esquecendo o país. Os putativos candidatos, mais do que fazerem moções ou contarem espingardas nas estruturas distritais, precisam de compreender que os portugueses querem um modo de fazer política diferente. Um recente artigo do professor Cavaco Silva colocava o dedo na ferida quando falava da ausência das reformas estruturais que são necessárias. A questão é saber se vamos continuar a descer na tabela dos países europeus e a perder competitividade na nossa economia e na forma de produzir e distribuir riqueza.
A intervenção política exige, cada vez mais, aos responsáveis capacidade prospetiva e de antecipação.
O ambiente de guerra em que estamos mergulhados implica também saber compreender o novo mundo que aí vem. A Suécia e Finlândia vão abandonar o seu estatuto de países neutros num sinal de que a nova Guerra Fria já começou. Putin explicou-nos que não tem medo de arrastar o Mundo para um conflito cujo resultado todos temem.
Ora, perante um cenário de crises constantes, a resposta não pode nem deve ser a mesma. Para defender o Estado social precisamos de respostas inovadoras que permitam a sua sustentabilidade. O Estado fiscal não pode continuar a devorar os recursos da classe média de modo a conduzir esta à pobreza. A coragem de não desiludir os portugueses é, neste momento, o grande dilema do PS. Não existem agora mais argumentos para fugir. A inflação, a perda de poder de compra e as consequências da guerra estão aí. O Governo não é só o Ministério das Finanças.
Professor universitário de Ciência Política