Corpo do artigo
A crise política atual, em torno da empresa da família do primeiro-ministro (PM), reflete uma incapacidade estrutural de resposta aos desafios do país e alimenta a descrença na política.
Num momento de profundas transformações geopolíticas, Portugal parece aprisionado em pequenos jogos de poder, incapaz de definir um rumo claro para o seu futuro. Se é certo que o PM foi, no mínimo, imprudente, é igualmente relevante destacar a exploração exagerada de certos casos e casinhos, ao ponto de se inventar que o filho de Montenegro criou uma empresa de alimentação à base de insetos, quando, na realidade, se tratava de um projeto académico.
O que me parece mais preocupante é que os portugueses já antecipam as reações políticas: independentemente de esta empresa representar ou não um problema, se a situação fosse inversa, o PSD faria exatamente o que a oposição está a fazer agora, e o Governo do PS defenderia que estava tudo nos conformes. Para mim, o cerne da questão está aí: Portugal está refém de uma partidarite clubística, em que, se somos nós, está tudo bem; quando são os outros, está tudo mal.
Entretanto, o país continua estagnado, perante uma fuga de talento que pode custar aos contribuintes um terço do PIB ao longo de uma geração. O mundo vive uma fase de forte convulsão, exacerbada pelo regresso de Trump à Casa Branca, sinalizando tempos incertos, enquanto a União Europeia procura responder a graves desafios de segurança, económicos e sociais.
No entanto, Portugal permanece mergulhado em crises políticas internas e na incapacidade de desenhar um projeto de futuro sólido. O país precisa de lideranças íntegras, capazes de assumir responsabilidades e de colocar os portugueses à frente de interesses privados, pessoais e partidários. Precisamos, definitivamente, de mais política e menos politiquice.