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Portugal vai entrar em défice orçamental em 2026? Se perguntarmos à versão prudente do ministro da Economia, ele responde: “Garantia de que não há défice ninguém pode dar”. Mas se, instantes depois, perguntarmos à versão eleitoral do ministro Pedro Reis, a coisa muda de figura: “Não vai haver défice em Portugal. Isso é claríssimo”. O episódio, caricatural, aconteceu em direto, durante a apresentação das medidas do Governo para ajudar as empresas a suster o impacto das tarifas norte-americanas. O governante, embaraçado, corrigiu o tiro inicial após, ao que parece, ter sido advertido por Luís Montenegro, que assistia a tudo na plateia. É caso para dizer que se tratou da evolução mais rápida do quadro macroeconómico português. Em quatro minutos, passamos de um cenário de possível derrapagem para um de completa robustez.
A quantidade de debates eleitorais tem ajudado a propalar a convicção de que vivemos num oásis de desenvolvimento e progresso social. Todos prometem tudo a todos, em particular nos impostos, onde há um rodízio de sabores ideológicos. Escasseiam, contudo, as explicações sobre onde vai ser compensada a perda do Estado com tamanhas benesses fiscais.
O PS diz que no passado é que era, pois Portugal crescia de forma vigorosa, a AD garante que agora é que vai ser, todos concordando em não estar de acordo em coisa nenhuma. Mas claro que é sempre mais fácil culpar os populistas, de Esquerda e de Direita, pelo erosão do eleitorado. Assumir que falar verdade aos portugueses não é uma preocupação dos maiores partidos é confiar que padecemos todos de um crónico défice... de atenção.