Mais e melhor saúde em 2023! Este terá sido, com toda a certeza, um dos votos mais formulados nas duas últimas semanas, o qual não tenho qualquer reserva em subscrever, em qualquer das leituras que do mesmo se possa fazer.
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Mas, como todos sabemos, para que tal aconteça, não chegam desejos ou boas intenções nem, muito menos, slogans mais ou menos panfletários assentes em crenças de bondade inquestionável nos amanhãs que cantam.
Para que uma evolução positiva ocorra nesta área, como todos queremos - e se há tema de consenso é certamente este -, muita coisa vai ter de mudar ou começar a mudar. Se tudo ficar na mesma, como tem acontecido nos últimos anos, não há fé nem esperança que resistam: e os resultados vão continuar a piorar.
E destas muitas coisas que vão ter de mudar ou começar a mudar, vou selecionar aquelas que não podem mesmo ficar por mais tempo adiadas, sob pena de atingirmos um ponto de não retorno no nosso sistema de saúde.
Melhoria do acesso - não é razoável que daqui a um ano continuemos a ter um número tão iniquamente elevado de cidadãos sem médico de família, como não é aceitável que nos continuemos a escudar nas ditas razões estruturais para que este quadro se mantenha. Vai ser necessário algum investimento e, sobretudo, imaginação e capacidade de fazer.
Melhoria das condições para os profissionais - é também muito difícil de aceitar e de compreender como foi possível, por muita inação e alguma incompetência, chegar ao quadro atual de desmotivação generalizada dos profissionais do Serviço Nacional de Saúde. É uma situação grave que requer igualmente alguns recursos financeiros, mas, sobretudo, vontade e capacidade reformadora.
Melhoria do parque edificado e dos meios de equipamento - merece igualmente que nos interroguemos como foi possível manter por tanto tempo políticas ativas de desinvestimento com as consequências que hoje começam a ser percecionadas, mas que eram há muito previsíveis. Um planeamento, desejavelmente, plurianual nestes domínios não pode ser mais adiado.
Sabemos da forte interdependência entre estas três áreas e destas com todo o complexo ecossistema da saúde, e também sabemos que sem gestão e planeamento adequados as melhorias preconizadas vão continuar a não aparecer. Mas o que não podemos tolerar é que nada aconteça no sentido da resolução dos problemas, porque temos todos dificuldade em aceitar o plano inclinado em que a saúde se deixou colocar.
A recente criação da Direção Executiva foi um ponto de esperança e a sua ação em 2023 poderá ser o ponto de viragem. Os diagnósticos estão quase todos feitos e o caminho é mais ou menos conhecido. Coragem e capacidade de decisão e de ação, são os condimentos que não vão poder faltar.
*Diretor-executivo do Health Cluster Portugal