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Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, surpreendeu o mundo ao conceder um indulto ao próprio filho. Esta decisão, tomada após prometer que não interferiria no processo, lança a sombra sobre uma carreira política marcada pela dedicação à causa pública. Do ponto de vista pessoal, é compreensível que Biden, com uma história familiar repleta de tragédias, sinta o desejo de proteger o filho. No entanto, esta escolha, no âmbito político, é inaceitável e profundamente prejudicial. E, inevitavelmente, surge a pergunta: e se fosse Trump?
Se Trump tivesse tomado uma decisão semelhante, seria alvo de críticas em todo o Ocidente, acusado, com razão, de atacar os pilares da democracia. O ato de Biden não é diferente. É, de facto, um golpe contra a imparcialidade que deve nortear qualquer líder.
Sou um apreciador de Biden. Valorizo a sua moderação e o papel crucial que desempenhou ao derrotar Trump, defendendo a democracia americana dos que negam a ciência e promovem teorias da conspiração. Porém, este indulto representa um erro grave. Biden abriu a porta para que, no futuro, Trump possa usar a mesma prerrogativa para perdoar os seus apoiantes que participaram na invasão ao Capitólio – um dos episódios mais vergonhosos da história democrática americana.
Esta decisão amplia a distância entre a sociedade e a política, especialmente entre os mais jovens. Pior ainda, dá munições aos populistas. Num mundo cada vez mais polarizado, a falta de integridade e sentido de estado é um convite ao caos.
Precisamos de líderes moderados, guiados pela evidência científica e com um compromisso inabalável com a ética. Porque a política sem valores é mesmo uma vergonha.
* Presidente da Federação Académica do Porto