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A norte, existem cinco sítios classificados pela UNESCO como património da humanidade. O Alto Douro Vinhateiro e a Arte Rupestre do Vale do Côa, os Centros Históricos do Porto e de Guimarães ou o Santuário do Bom Jesus em Braga são locais bem preservados graças ao cuidado e acompanhamento das respetivas autarquias e entidades gestoras ou proprietárias, sendo lugares de referência para fruição por residentes e um cada vez maior número de visitantes. São exemplos de equilíbrio harmonioso entre preservação e valorização, sendo que a segunda alimenta sustentavelmente a primeira.
Recentemente, a UNESCO aprovou a expansão da área classificada em Guimarães, alargando-a à Zona de Couros, passando dos atuais 19 para 38 hectares. Este reconhecimento deve orgulhar o país, sendo o resultado do investimento continuado do Município ao longo de mais de 20 anos, em estreita colaboração com a Universidade do Minho e com apoios de fundos europeus. Aquilo que no princípio deste século era um local sujo e degradado, por vezes impenetrável, transformou-se num espaço aprazível onde os tanques de curtimenta são memória incontornável da pestilenta atividade e do trabalho duro ali deixado desde o século XII. Essas memórias convivem, hoje, com um campus universitário modernamente funcional, instalações sociais e, cada vez mais, espaços de residência e de atividade turística. O espaço e o seu crescente metabolismo são estruturados pela ribeira e por complexos marcantes, nomeadamente: o multifuncional Instituto de Design (antiga Fábrica Ramada); o singular Centro Ciência Viva, nos fabulosos sequeiros e pátios da outrora Fábrica Âncora; as acolhedoras e intrincadas instalações da antiga Fábrica Freitas & Fernandes que albergam um Centro de Formação Pós-Graduada e as bonitas instalações da Universidade das Nações Unidas; bem como o conjunto Teatro Jordão-Garagem Avenida, inaugurado há cerca de dois anos para acolher os departamentos da UMinho ligados às artes visuais e performativas e o Conservatório de Música.
Também em Terras de Bouro o Município congrega esforços para obter o reconhecimento da UNESCO para a Geira, o bem conservado troço de uma das vias romanas que ligava Bracara Augusta a Asturica e respetivos marcos miliários, numa das pérolas do Parque Nacional Peneda-Gerês - a notável Mata da Albergaria.
A determinação e a consciência patrimonial das autoridades municipais e regionais recuperaram e classificaram estes bens. O quadro legal vigente e recentemente acentuado pela reforma no setor da cultura faz com que sobre ele recaia a tutela do poder central. Esperamos que, nesse modelo, o novo organismo de gestão do património cultural saiba envolver, promover e respeitar a participação ativa das entidades que sentem e vivem diariamente a pertença destes bens.