Chegou outubro e com ele o já habitual bailado da discussão em torno do Orçamento do Estado. Entre supostas crises políticas, o certo é que a Esquerda que sustenta esta geringonça vai para o sexto Orçamento consecutivo.
Corpo do artigo
Do que já é público, nada muito diferente da linha habitual deste Governo, um orçamento com uma tentativa de pendor social e o anunciar de um grande reforço do investimento público, provavelmente a ser cativado à semelhança dos anos transatos. Mas existe uma medida que me merece uma especial atenção, a descida na retenção mensal do IRS. Sendo evidente que não se trata de uma baixa de imposto, visto que o acerto será feito aquando do apuramento final em abril de 2022. Porém existe aqui algo de mais profundo que merece ser realçado, o Governo percebeu que o esforço fiscal feito mensalmente pelos portugueses, em especial os da classe média, é brutal. Pode-se teorizar sobre combater a crise com base no consumo interno, mas é pura e simplesmente impossível acreditar nisso. Entre impostos, descontos, despesas escolares e habitação, a maioria das famílias portuguesas só consegue fazer face às suas despesas com regra e disciplina. Não estamos a falar de aspirar a grandes luxos, ou gastos em lifestyle, ou de ascender social e economicamente. Estamos a falar de temer verdadeiramente a avaria da máquina da roupa ou a data da inspeção do carro. O final do mês é uma pressão permanente. O Governo entendeu, e bem, que a classe média está em crise, que está falida. Porém não apresenta uma solução, apresenta mais uma maquilhagem. Tem de ser possível fazer mais. O futuro do país, como penso ser unânime, não existe sem classe média, sem o tão falado elevador social e sem aspiração. Se já todos percebemos a crise da classe média, basta haver a coragem e finalmente negociar a solução. E o IRS é a ferramenta certa para ser usada e não apenas manipulada. Mas isso obriga a uma reforma profunda e eficaz. Este PS nunca a fará.
Engenheiro e autarca do PSD