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Terminado o ato eleitoral o país acordou num estado de alguma perplexidade. A vitória da Aliança Democrática parece uma vitória de Pirro com um sabor que vai exigir muito trabalho e muita negociação para explicar a quem quiser qual a governabilidade do sistema político. Algumas lições podemos extrair destes resultados. Desde logo, o Partido Socialista perdeu cerca de 550 mil votos, cujos eleitores, parece, se transferiram para o Chega, permitindo a este partido formar um grupo parlamentar com 48 deputados.
A extrema-esquerda sofreu uma pesada derrota com a CDU a sentir a vingança dos netos do 11 de março de 1975, o BE a aguentar-se e o Livre a constituir um grupo parlamentar graças ao modo de adaptar o seu discurso aos tempos de hoje.
A par da redução da abstenção o voto foi, talvez, muito mais de protesto do que de mudança. Até mesmo o fenómeno ADN deixou evidente a confusão que representaram os cerca de 100 mil votos perdidos pela AD. O não crescimento da Iniciativa Liberal veio evidenciar que esta só perdeu em não integrar a coligação da AD e, dessa forma, perdeu importância à Direita. Nos 50 anos do 25 de Abril da celebração da democracia como é que poderá Luís Montenegro obter a confiança do país?
Vai procurar obter um diálogo direto com o país e com aquelas pessoas, jovens e idosos, homens e mulheres, que estão saturadas das condições da sua vida. As eleições dizem que os portugueses queriam mudar de estilo e de modo de estar na política.
O Partido Socialista compreendeu isso quando pretende, agora, refugiar-se na Oposição e deixar ao PSD a tarefa ingrata de gerir e procurar encontrar um Governo que permita alguma permanência temporal.
Cercado entre uma extrema-direita, que representa mais de um milhão de votos, e uma Esquerda que ainda não compreendeu não chegar fazer só promessas e não as cumprir, o PSD tem agora uma gigantesca tarefa que vai exigir moderação e diálogo. Para ter esse diálogo o PSD vai precisar de compromisso com a verdade e com a realidade. Vai ter de dizer aos portugueses ao que vem e o que quer fazer. Não pode esquecer o exemplo de Cavaco, em 1985, quando formou um Governo competente, coeso e pequeno e teve de enfrentar um Parlamento onde foi, muitas vezes, a “despacho”.
Será inevitável que a Oposição vai atravessar linhas vermelhas e negras. O PSD terá de aprender com a lição de Francisco Sá Carneiro e saber voltar a ser um partido de combate e de causas. O compromisso terá de ser uma cultura nos próximos tempos. O futuro deste Governo vai depender da sua capacidade de saber reunir os apoios necessários para fazer as reformas possíveis. Até lá, vamos ter umas eleições europeias num ambiente muito exigente.
Teremos sempre o presidente da República!