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Escrevo esta crónica quando passam nove anos sobre o último dia de vida de Mariano Gago. Uma vida dedicada a pensar e a fazer política de ciência, a defender que Portugal fosse um “país normal”, igual àqueles em que a ciência é socialmente reconhecida como essencial ao desenvolvimento, e a demonstrar que isso era possível. Quando evoco Mariano Gago, faço-o relembrando o seu legado, mas sempre com a preocupação de reafirmar a necessidade de prosseguir e atualizar o caminho por ele percorrido.
1. Precisamos de continuar a fazer crescer o sistema científico e tecnológico. Não há ciência sem recursos humanos com formação avançada, sem recursos financeiros, sem instituições fortes e infraestruturas modernizadas. É preciso continuar a ganhar escala em todas as áreas científicas. O compromisso de investimento em I&D de 3% do PIB, até 2030, é o indicador de atualização da nossa ambição, mas também do esforço que temos de fazer.
2. Ciência de qualidade exige procedimentos permanentes e rigorosos de avaliação baseada em critérios internacionais. A participação de Portugal nos organismos internacionais e transnacionais é condição de internacionalização e de qualidade do sistema científico.
3. O desenvolvimento científico não pode ser planeado definindo prioridades disciplinares ou outras. É desejável a identificação de problemas que desafiem o futuro, é necessário estimular a quebra de fronteiras no conhecimento e a interdisciplinaridade. Mas tal não pode substituir o investimento em todas as áreas científicas, nem exigir que a ciência seja sempre aplicada, útil e rentável, orientada para resolver problemas sociais ou empresariais.
4. A estabilidade e a previsibilidade são valores importantes para a sustentabilidade do sistema científico. Estabilidade das instituições e estabilidade do emprego científico. A partir de 2026, universidades e centros de investigação terão responsabilidades novas na vinculação de muitos investigadores. Importa que lhes sejam dadas condições financeiras para poderem assumir plenamente esses novos compromissos.
5. A ciência floresce melhor nas sociedades qualificadas do que naquelas em que predomina a ignorância. A qualificação das pessoas, a comunicação e a divulgação de ciência, tornando mais acessível o conhecimento, são responsabilidades de professores e investigadores. Importa ainda quebrar o isolamento da ciência na esfera política, debater publicamente, argumentar e convencer os vários poderes sobre a importância da ciência na construção de um país moderno e democrático.