Corpo do artigo
Há uma morte constantemente anunciada que jamais poderá acontecer. O jornalismo, diariamente maltratado e manchado pelo execrável ódio que corre nas veias das redes sociais, tem de viver. Respirar a plenos pulmões, ser e estar, questionar e contrariar, mesmo com o peso do Mundo às costas.
A caminhada é longa – com curvas e contracurvas que mereciam uma reflexão isolada – mas há um poder que está ao alcance de todos: o de respeitar o papel e o trabalho do jornalista. Estimá-lo. Dar-lhe valor. Há uma disponibilidade em cada um de nós, jornalistas, que é uma espécie de amor ao ato de entrega da informação. Ser “luz” na vida de alguém, oferecer as peças do “puzzle” da atualidade para que os leitores possam organizá-lo, entendê-lo e avaliá-lo.
As provas da importância deste papel são infindáveis, mas há uma muito recente, no dia do apagão ibérico. A partir das 11.33 horas de 28 de abril, sem eletricidade, sem água e sem condições para telefonemas de reclamação, foi o velhinho rádio a pilhas a única companhia de tantos portugueses. A voz dos jornalistas informou, tranquilizou, desconstruiu teorias da conspiração, orientou e permitiu ao país não ficar em isolamento total horas a fio.
O que muitos não sabem – ou simplesmente não se lembram – é que, para que isso tenha acontecido, muitos profissionais viveram momentos altamente tensos nas redações. A tentar improvisar soluções – com lanternas, nos corredores ou onde fosse – de forma a garantir que, tanto naquele dia como no seguinte, a missão fosse minimamente cumprida.
Eu não estive no jornal durante essa “batalha” e, honestamente, depois de perder o contacto com os elementos da minha equipa, dei por mim mais preocupada com o caos que estariam a viver do que com os problemas resultantes do apagão. E há uma explicação para isso. Em cada redação há uma família, um núcleo de pessoas muito diferentes que se entendem, que se cuidam e que não questionam o direito de cada leitor à informação.
O mínimo que se pode pedir em troca a quem nos vê, ouve e lê é respeito. O exercício é simples: mesmo com todas as lâmpadas do mundo a explodir de luz, a morte do jornalismo seria o apagão mais angustiante da humanidade. Ninguém é perfeito e os desafios da profissão são inegáveis – face à ameaça da desinformação e ao crescimento assustador da extrema-direita – mas só um dia a dia informado nos permite pensar e tomar decisões de forma consciente.
Os meios de comunicação social, em especial a rádio, foram de uma importância extrema na Revolução de 25 de Abril e, hoje, mais do que nunca, têm de continuar a ser encarados como peças fundamentais da liberdade e da democracia. As redes sociais não informam, a inteligência artificial não duvida. Não há tempo para ódios, mesquinhices e ataques gratuitos. Em cada jornalista está um amigo.