Ensemble é o nome de uma associação que reúne cerca de 60 escolas de ensino especializado da música. É, também, o nome de uma orquestra sinfónica de jovens músicos entre os 14 e os 22 anos, alunos dessas escolas. E é, ainda, um símbolo de resiliência na defesa e na promoção do ensino especializado da música.
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Tal como as do ensino profissional da música, estas escolas fazem um trabalho de todos os dias, discreto e quase invisível, formando músicos, formando para a música, formando públicos, fazendo chegar o ensino da música mais longe e a mais jovens.
Apesar deste esforço, sabemos que o ensino artístico especializado é apenas para alguns. Enquanto assim for, não construiremos uma base de formação ampla que permita identificar e formar talentos em número significativo, como também não formaremos cidadãos disponíveis para compreender, gostar e usufruir das artes. E sem esse alargamento também não seremos capazes de gerar oportunidades de trabalho para artistas, designadamente nos domínios da música, teatro e dança, ficando fechados num círculo vicioso de pequenez e insuficiência.
No primeiro dia de verão, 21 de junho, em França, todos os anos, celebra-se a festa da música, a qual traz para a rua milhares de franceses de todas as gerações, famílias inteiras, tocando os seus instrumentos, o que aprenderam, o que sabem, pelo simples prazer de tocar. Infelizmente, seria impensável replicar esta festa em Portugal. Quase todos os portugueses tiveram, na frequência do segundo ciclo, obrigatoriamente, a oportunidade da educação musical, que nos últimos anos incluiu aprender a tocar flauta barroca. Pura ficção. Todos sabemos que nem os parabéns aprendemos a cantar sem desafinar.
No nosso país, o ensino artístico não tem a valorização necessária a um desenvolvimento mais democrático, aberto e generalizado. E não é apenas o ensino da música, do teatro e da dança. No domínio das artes visuais e do audiovisual a escassez de oferta é clamorosa. Existem apenas duas escolas artísticas públicas, uma em Lisboa e outra no Porto. Na Escola Artística António Arroio, em Lisboa, ficaram este ano por colocar mais de 400 jovens candidatos. Vale a pena perguntar se não haveria espaço para criar uma nova escola artística na Área Metropolitana de Lisboa que respondesse às expectativas dos jovens que procuram o ensino artístico. E fazer chegar, em geral, o ensino das artes ao maior número de jovens.
*Professora universitária