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Os últimos dias têm sido tudo menos positivos para a credibilidade dos políticos em Portugal. Da direita à esquerda, os protagonistas da semana envolveram-se no furto de malas no aeroporto, despedimentos eticamente reprováveis e conflitos de interesse, que levaram à demissão de um membro do Governo.
Miguel Arruda, deputado do Chega, é suspeito de ter furtado malas nos aeroportos de Lisboa e Ponta Delgada. As justificações que dá são dignas de um filme de comédia, mas não o impediram de se manter no Parlamento. Passou a deputado não-inscrito e até ganhou gabinete próprio.
Já no BE, partido que sempre se posicionou como defensor dos direitos laborais e das mulheres, fez jus ao ditado “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço” com o despedimento de duas trabalhadoras que ainda estavam a amamentar.
No Governo, a situação não foi melhor. Hernâni Dias, secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, pediu a demissão após a criação, semanas antes, de duas imobiliárias que poderão beneficiar da nova lei dos solos — legislação precisamente sob a sua tutela.
Estes episódios alimentam o desalento em relação à política. A falta de um compromisso ético inabalável e os discursos hipócritas só afastam as gerações mais novas da participação cívica. A política exige seriedade e respeito pelos cidadãos que representa. Se o BE pediu desculpa e Hernâni Dias demitiu-se, o Chega não pediu desculpa e Miguel Arruda continua a degradar a vida democrática. Já que está habituado a fazer e desfazer malas, está na hora de fazer definitivamente as malas e demitir-se.
* Presidente da Federação Académica do Porto