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O país tem vivido um ciclo de eleições resultante da antecipação dos calendários das mesmas por sucessivas perdas de confiança parlamentar ou por motivos judiciais. Assim aconteceu na Madeira, nos Açores e nacionais.
Estas sucessivas eleições acabaram por transformar situações de estabilidade política em resultados sem maiorias parlamentares. Nos Açores foi possível constituir um Governo com um frágil apoio parlamentar. No caso das eleições para a Assembleia da República a vitória da AD acabou por ser quase por uma diferença mínima de votos, o que implica um Governo frágil que tem uma frente de oposição genericamente assente entre o PS e o Chega. Agora, na Madeira, tudo aponta para que o Governo que Miguel Albuquerque vai propor não tenha melhor sorte do que uma moção de rejeição ao seu programa.
No plano nacional, o Governo da AD fica a aguardar pelo teste do Orçamento na expectativa de saber se vai sobreviver ou não.
Sendo as eleições o momento em que o povo faz as suas escolhas não deixa de ser importante fazer também uma reflexão sobre a sua frequente necessidade.
Certo é que o presidente da República poderia, no caso da queda do Governo de António Costa, ter evitado eleições legislativas convidando o PS a indicar um outro primeiro-ministro. Mas não foi isto que sucedeu e agora, na Madeira, não lhe resta outra solução senão seguir o mesmo caminho.
Ora, a estabilidade política é algo que faz falta aos agentes económicos e à sociedade civil porque lhes retira a capacidade de preverem um pouco o desenvolvimento do processo político, económico e social.
Sem essa estabilidade os extremos ganham um particular destaque a exemplo, aliás, do que as eleições europeias vieram demonstrar. Ursula von der Leyen veio mesmo alertar os partidos moderadores do centro-esquerda e centro-direita, das duas famílias dos populares europeus e dos socialistas e democratas, para entendimentos que permitam evitar o avanço das forças populistas e extremistas.
No plano nacional, onde reside a nossa principal preocupação, começa a ser evidente a necessária confluência entre o PS e a AD com vista a ser possível assegurar a definição de políticas públicas que possam perdurar para além das legislaturas. O mesmo se poderá dizer para o Orçamento do Estado. Marcelo, enquanto líder do PSD na Oposição, garantiu a necessária estabilidade aos governos de Guterres para assegurar o objetivo nacional de entrar no pelotão da Zona Euro.
Numa Europa em guerra e num Mundo com outros conflitos à espreita, tudo parece apontar para uma necessária confluência da salvaguarda do interesse nacional. Até lá, o Governo promete diálogo sem o promover porque acredita que pode ser beneficiado com uma crise política.