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São muitos dias de luto nacional. Hoje é mais um. De homenagem aos homens e mulheres que morreram a combater os incêndios florestais. À enfermeira Sónia, ao Paulo, à Susana. Dizem que morreram ao serviço dos outros. Ninguém devia perder a vida ao serviço de ninguém.
É ainda dia para recordar outras vítimas. Como o Carlos, que nasceu numa favela e sonhava em ser músico ou dançarino. Veio para Portugal. Abrilhantava o Carnaval de Ovar. Atirava chantilly às pessoas. Era o “Chantilly Papai” nas redes sociais.
Também morreu ao serviço de alguém. Carbonizado. Tentou salvar máquinas da empresa para a qual trabalhava. Não se sabe porquê. Ninguém devia perder a vida para salvar uma máquina.
Hoje é dia de luto nacional. Mais um. Igual ao decretado em homenagem aos militares da GNR vítimas da queda do helicóptero que regressava do combate a um incêndio no concelho de Baião. Foi há muito pouco tempo. Nenhum país devia ordenar dois dias de luto em apenas 20 dias.
É também dia de luto para o António, de Cavada Nova, Águeda. Enterrou um cão, seis gatos, uma cabra de estimação e muitos pássaros. Animais que se juntam a tantos outros que não vão fazer parte de mais uma triste estatística. Também devemos estar de luto por eles.
É um dia de luto para todos nós. Confusos em quem culpar. Confusos sobre incendiários criminosos, confusos sobre interesses publicitados, mas não explicados, confusos sobre as consequências das alterações climáticas.
É também um dia de pesar. Pela falta de vontade política. Pelo fracasso na gestão da floresta. Pela falta de planeamento durante quase cinco décadas em que os dois maiores partidos portugueses estiveram no poder.