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A vitória do Partido Trabalhista, de Keir Starmer, na Grã-Bretanha, colocou fim a 14 anos de governo do Partido Conservador. Curiosamente a última vitória dos conservadores tinha proporcionado uma grande maioria absoluta a Boris Johnson. Tal maioria permitiu cometer sucessivos erros na sequência do Brexit que nem a covid disfarçou.
Além da grande vitória dos trabalhistas, que retomam a terceira via de Tony Blair, estas eleições deixaram um sinal preocupante. A grande subida do partido Reform UK, de Nigel Farage, que elegeu quatro parlamentares, mas obteve cerca de quatro milhões e cem mil votos, o que faz dele o terceiro partido inglês à frente dos liberais democratas. Só o sistema uninominal inglês evitou uma maior representação parlamentar.
O exemplo do sistema eleitoral francês, de duas voltas, mostrou, no último domingo, como a Frente Nacional foi derrotada por uma coligação alargada da extrema-esquerda com o PS. Compreende-se que o presidente Macron pretendia desgastar a hipotética candidata presidencial, mas o resultado foi antecipar um novo confronto no sempre difícil campo da governação com a extrema-esquerda.
Em Itália, com um sistema proporcional, a senhora Meloni conseguiu governar. Em Espanha, o Vox tem representação parlamentar e, em Portugal, o Chega tem um grupo parlamentar com 50 deputados. Na Alemanha a AFD que conseguiu obter um bom resultado, nas eleições europeias, num sistema eleitoral que só permite aceder ao Parlamento quem tiver mais de 5% dos votos.
Ora, podemos considerar que são os vários sistemas eleitorais que vão, aqui e ali, retardando a força dos extremos para influenciar a ação governativa. As eleições europeias mostraram a necessidade de o centro moderado saber dialogar e responder às necessidades dos eleitores.
Os resultados eleitorais mostram que as pessoas estão cansadas de promessas não cumpridas e de escândalos com políticos, o que tem aumentado a desconfiança dos eleitores.
O ideal europeu parece estar em crise já que os valores da paz e da tolerância estão a atravessar alguma turbulência quer na União Europeia quer na NATO.
No final do ano, teremos eleições presidenciais, nos Estados Unidos, e parece que Donald Trump lidera as sondagens.
O confronto entre as sociedades abertas e as sociedades fechadas está mais evidente mas, como dizia Karl Popper, ser otimista é um dever moral.