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Se há coisa que as últimas semanas nos ensinaram em termos de futurologia política, é que não vale a pena antecipar cenários nem tentar projetar nas estrelas. O ecossistema partidário português está em ebulição e a tendência não é para acalmar. A julgar pela amostra, serão tempos de ajustes de contas e batalhas pela sobrevivência pessoal e institucional. O desafio imediato é já daqui a dois meses, mas espera-nos uma longa jornada de atos eleitorais: legislativas em maio, autárquicas em setembro/outubro e presidenciais em janeiro (a que se soma a chamada regional às urnas na Madeira, que decorrerá este mês).
Portanto, a questão que se coloca é fácil de elaborar: como vão os portugueses digerir dez meses de campanhas, cartazes, tempos de antena, guerrilha verbal e, enfim, horas infindáveis de debates?
O cansaço eleitoral vai fazer sentir-se e, com ele, um potencial distanciamento, que pode traduzir-se em elevados índices de abstenção. A estratégia dos partidos não deve, por isso, ser alheia a esta sobreposição de sufrágios, por mais que eles sejam distintivos nos propósitos e nos protagonistas. Pede-se aos agentes políticos que abusem da contenção verbal e, sobretudo, do comedimento mediático. Ainda que não pareça, o país continuará a funcionar em fundo e, mesmo que as circunstâncias sejam mais ou menos inauditas, devemos encarar com naturalidade estes tempos de funcionamento da democracia.
Enxamear os eleitores de mensagens políticas pode ser muito tentador junto de quem controla as máquinas partidárias, mas a parcimónia e o bom senso no uso dos megafones serão uma vantagem para quem falar e, especialmente, para quem ouvir.