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A resposta à questão que dá título a este texto será certamente um enorme sim. E estará devidamente fundamentada em estudos e análises da mais reputada qualidade.
Ao comum dos mortais, onde me incluo, esta opção tem tudo para ser assumida como óbvia: vem substituir oito unidades já muito antigas e com disfunções decorrentes de não terem sido inicialmente pensadas para esta utilização; vai poder responder aos mais exigentes requisitos em termos de layout e construção, e ser equipada com o que de mais moderno estiver disponível; permitirá uma operação mais eficiente e com custos significativamente mais baixos quando a comparação é feita com a realidade atual; vem reforçar a oferta numa área em que a procura está a crescer; e, se há mais de trinta anos que anda a ser estudada e prometida, não se pode adiar mais.
Assim, tudo leva a crer que é mais do que evidente a sua necessidade e o que importa é concentrar todos os esforços e energias na sua rápida construção e colocação em funcionamento, o que encherá de orgulho os que à data da inauguração cortarem a fita. Não só os que a cortam, como sobretudo os que se acotovelam à volta destes para ficarem na fotografia. A ocorrência, ao longo destes muitos anos, de vários e sucessivos anúncios de lançamento da obra só pode atestar a importância e relevância da mesma.
Por outro lado, e correndo alguns, tranquilamente assumidos, riscos de ser acrescentado ao rol dos idosos do Restelo, não posso deixar de me interrogar se será mesmo assim, se este é mesmo o caminho certo?
Num contexto em que a pressão sobre os sistemas de saúde está sobretudo, e em crescendo, do lado da doença crónica, a melhor resposta será mesmo a de construir um grande hospital desenhado no figurino vigente há 30 ou 40 anos, onde as preocupações estavam em grande medida centradas nas situações agudas?
Não faria mais sentido este enorme esforço de (re)alocação de recursos, desde logo humanos e financeiros, ser direcionado para uma abordagem mais distribuída e potencialmente mais ajustada à procura? Com o cidadão/doente verdadeiramente no centro?
Ao pensar e enunciar estas questões, é inevitável não deixar de me confrontar com a elevada probabilidade da falta de fundamento das mesmas, desde logo porque, como já referi, este é um dossiê com muitos anos, certamente muito pensado, repensado e confirmado, por alguns dos mais competentes nas matérias envolvidas.
Claro que haverá enormes ganhos de escala, claro que a gestão poderá ser mais eficiente, claro que o parque que será substituído há já muitos anos que está manifestamente obsoleto e perigosamente desajustado, claro que não faltam razões objetivas e instrumentais para este passo. E, mais importante: claro que os cidadãos serão mais bem servidos do que o que hoje acontece.
No entanto, a questão que me assalta é se, com os mesmos recursos, não poderíamos ter desenhado uma outra solução que servisse muito melhor esses cidadãos, não apenas agora, mas daqui a 10 ou 20 anos, quando a acelerada mudança em curso no acentuar do peso da doença crónica exigir respostas muito diferentes das que hoje conhecemos.
Porventura não e teremos mesmo que nos dar por muito felizes se o recentemente anunciado arranque da obra for mesmo para cumprir!