Corpo do artigo
Oxalá o incenso das festas natalícias que se aproximam espante algum pessimismo que se tem abatido sobre nós, com as notícias do Mundo. Há quem afiance que ele está perigoso, há quem desconfie que está também estranhamente imprevisível.
Felizmente, há sempre quem - e há muito quem -, no meio da turbulência, da mudança abrupta ou do imponderável, ponha mãos à obra e pés a um caminho novo. O espírito nortenho é feito muito dessa atitude de quem não espera “melhores dias”, garantias de outrem ou um solo inamovível, para fazer e investir.
Precisamos desse espírito empreendedor e liberal. Espírito moldado milenarmente numa cultura de autodeterminação, otimismo moderado e confiança q.b. em quem somos. De outro modo, como se teria feito a nossa tradição industrial e exportadora, a nossa diáspora e a nova marca de ciência e inovação?
Precisamos desse espírito renovado, apesar dos sobressaltos da geopolítica e sobretudo por causa dos tremendos desafios que as mudanças tecnológicas e económicas nos colocam. No plano regional, há estímulos para exercitar esse espírito. Em 2024, só em concursos de fundos europeus geridos a Norte, estão colocados à disposição da economia mais de 2000 milhões de euros - e desse volume, 500 milhões de euros terão de ser aplicados em 2025, meta que é extraordinariamente exigente e que requer a mobilização de todo o Norte.
Mas essa exigência pode funcionar também como um acelerador para fazer coisas que faltam, seja na inovação empresarial, na ciência e tecnologia, na qualidade de vida urbana e nos territórios de baixa densidade, na transição energética, na cultura e turismo ou na inclusão social.
A incerteza do Mundo não pode impedir a nossa capacidade de agir, de fazer futuro.
Um bom sinal chega-nos do Douro, que esta semana completa 23 anos com o selo de Património Mundial da UNESCO. Nos resultados do Prémio de Arquitetura do Douro, que serão anunciados este sábado, em Carrazeda de Ansiães, encontramos frescura e talento, modernidade e contemporaneidade, em diferentes intervenções de arquitetura ligadas ao vinho, ao turismo e ao alojamento, com raízes fortes na natureza, no território e nesse indisfarçável caráter que define milenarmente o Douro e todo o imenso Norte.
Este sábado, bem cedinho, valerá a pena ir até Carrazeda de Ansiães, ao Museu da Memória Rural (onde se falará também de “imaterialidade”), sentir o perfume e a força desse incenso que espanta o pessimismo.