É frequente esquecermo-nos do que temos e lamentarmos sobre o que não dispomos. Assim sucede também na vida coletiva.
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Vem esta reflexão a propósito do facto de Portugal - e o Norte, em particular - partilhar uma das grandes rotas históricas, culturais e de espiritualidade da Europa: os Caminhos de Santiago. O biénio celebra um ano Xacobeo especial, cuja programação foi apresentada no Porto, há dias, pelos nossos irmãos galegos. A consciência sobre o seu valor passado e potencial futuro só pode ser, entre nós, incrementada.
Os Caminhos de Santiago são um pilar da nossa milenar identidade galaico-portuguesa, cujas raízes e afinidades, mitologia, crença e verdade se forjaram ao longo da história. Com origens no século IX enquanto traçado de peregrinação dos devotos do apóstolo, os Caminhos de Santiago foram um dos roteiros mais concorridos da Europa medieval. A sua afirmação também envolveu disputas, algumas das quais cruzaram o percurso da fundação da nacionalidade portuguesa.
Hoje, são um imaginário poderoso e uma marca com estatuto internacional. São um património vivo capaz de constelar uma experiência cultural e turística diferenciadora, combinando património e natureza, história e arte, gastronomia e vinhos, e de reforçar o posicionamento internacional do Norte sustentado pelos galardões atribuídos ao Porto e a Braga, entre outros "ativos". Só nesta grande rota, que goza de uma capilaridade em quase toda a geografia regional, o Norte e a Galiza partilham nove patrimónios classificados pela UNESCO.
Este é mais um exemplo de como um ativo eminentemente territorial se pode converter num recurso relevante de desenvolvimento sustentável. Assim saibamos usar de uma estratégia integrada e de um plano de ação esclarecido, reconhecendo na Entidade Regional de Turismo do Porto & Norte um motor liderante.
Vários financiamentos europeus estão a ser aplicados na valorização e organização das diferentes rotas dos Caminhos de Santiago a Norte. Esse esforço deve prosseguir, na resposta a novos desafios como a digitalização e na "ativação" cultural do destino, na qualificação da oferta turística privada e na promoção internacional dirigida inteligentemente.
A CCDR-Norte e a Turismo do Porto e Norte estão a realizar investimentos conjuntos com a Junta da Galiza, nomeadamente através do projeto "Facendo o Camiño", financiado por fundos europeus para a cooperação entre Portugal e Espanha.
Se "a Europa nasceu desta peregrinação", como vincou o poeta alemão Goethe, estes Caminhos são muitos importantes para fazer futuro.
*Presidente da CCDR-N