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Usada como verso de um tema de Pedro Abrunhosa e slogan de uma candidatura eleitoral, esta frase suscitou e suscita comentários e até polémica. Serve-me aqui de corrimão para a crónica de hoje, sobre um tema ao qual se associa também essa vontade de fazer uma coisa que tardava. Refiro-me ao projeto “Rotas do Norte”, há dias apresentado pela CCDR Norte e a Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte, que visa constituir um modelo de organização, gestão e promoção dos bens patrimoniais mais relevantes de uma grande e multifacetada região cultural como o Norte de Portugal, em rotas temáticas visitáveis. Modelo firmado num acordo inédito entre aquelas entidades, que garante solidez, estabilidade e contexto territorial e que não precisou de decretos-lei.
Na prática, estas rotas - que deverão começar a aparecer até final de 2025 - serão itinerários organizados, documentados, bem conservados, comunicados e geridos (creia-me o leitor que nenhuma destas palavras está a mais…), de sítios e bens de património, arte e arquitetura contemporâneas, com interesse comunitário, cultural e turístico, que estabelecem uma malha de oferta de experiências de visitação relevantes em toda a Região Norte: do Porto a Bragança, de Caminha a Freixo de Espada à Cinta; de Chaves a Moimenta da Beira.
Como ficou expresso no “Plano de Ação Regional para a Cultura Norte 2030” (documento de política pública adotado recentemente pela região, que colmata uma lacuna com 16 anos), o Norte representa a maior mancha de território classificado pela UNESCO como património mundial, e cerca de um terço do património cultural classificado português, quer falemos de bens imóveis (igrejas, castelos, fortalezas…), quer falemos de bens imateriais (como máscaras e festividades).
Quando olhamos a sua distribuição num mapa, percebemos que a região e o país poderiam ser bem menos assimétricos do que são, em termos de riqueza e oportunidades... É também por isto que estas “Rotas do Norte” são tão fundamentais. Porque favorecem o autoconhecimento do que somos e temos, democratizam o acesso a bens culturais, promovem a sua notoriedade para turistas e estimulam uma circulação mais sustentável e equilibrada de fluxos de visitação num destino.
Como sinal de que esta aposta é para levar a sério, os financiamentos do Norte 2030 para a reabilitação, conservação ou restauro de bens culturais passarão a adotar como um dos seus “filtros” a adesão desses bens a uma das “Rotas do Norte”.
É, mais ou menos, como diz a canção (e o slogan): há que fazer o que ainda não foi feito.