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A cruz que Leão XIV carrega não é menos pesada por representar uma extensão na missão doutrinária de Francisco. Estar à altura do legado do Papa argentino está longe de ser uma condição que se esgote no simples prolongamento dos seus ideais. Ainda assim, o novo chefe do Vaticano parece estar consciente da necessidade de evoluir na continuidade, num momento em que a Igreja Católica vive numa encruzilhada, com a perda massiva de fiéis, escândalos internos e uma indisfarçável divisão na Cúria Romana. Leão XIV será muito mais do que um guia espiritual. O primeiro Papa norte-americano terá pela frente a onerosa missão de ser também o diplomata construtor de diálogos num contexto geopolítico contaminado por Trump, Putin e Xi Jinping. Com guerras na Europa e no Médio Oriente. Os afetos de Francisco marcaram a imagem da Igreja como estandarte de tolerância e inclusão, mas foram ineficazes como gatilhos da mudança no Mundo.
Na primeira homilia como Papa, o antigo cardeal tocou na ferida: a fé cristã não pode ser considerada uma “coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes”. Mas a fé, acrescentou Robert Prevost, perdeu espaço para dimensões materialistas “como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer”. Não significa isto que os problemas coletivos se resolveriam com uma conversão retumbante do planeta ao catolicismo. O que Leão XIV nos está a querer dizer é que esse chamamento espiritual é determinante para o aprofundamento da paz e, por arrasto, para o ascendente político da Igreja Católica num Mundo ostensivamente convertido às futilidades.