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A campanha eleitoral vai ser longuíssima – como, de resto, se imaginava –, mas o cruzamento de três eleições em poucos meses, em particular as legislativas e as autárquicas, pode converter-se numa virtude, assim o queiram os partidos e os principais intervenientes políticos. Isto porque há uma emergência sem solução à vista chamada habitação. Não é de hoje, mas agrava-se todos os dias. Atinge as grandes cidades, as médias e as pequenas e arrasta para o mesmo turbilhão de incertezas os desfavorecidos, os remediados e os jovens que querem começar uma vida e não conseguem abandonar o regaço dos pais. Não devia, por isso, haver outro tema na boca dos candidatos. Porque quando há portugueses sem teto, e quando somos confrontados com a imagem de um Portugal das barracas que julgávamos esquecido, quando vemos cidadãos a sobreviver em condições indignas e cruéis, tudo o resto se torna irrelevante.
Não será preciso um pacto de regime entre partidos, porque normalmente tendem a esvair-se nas boas intenções sem produzir resultados, mas era imperioso que, nas próximas semanas, cada força política apresentasse propostas sérias, realizáveis, e que, no final, se conseguisse montar uma estratégia nacional que mobilizasse o Governo e as autarquias.
Debater o país não é uma fatalidade, por mais que este ambiente eleitoral nos cause fadiga. Saibamos aproveitá-lo da forma que mais interessa aos portugueses. Uma solução consensual e patriótica para a habitação que perdure no tempo constituiria a melhor forma de dar um propósito a estes longos meses de campanha e confrontação. Isso, sim, seria ganhar em casa. Mesmo não havendo casas.