O Mundo assistiu estupefacto e com surpresa à invasão russa da Ucrânia. O solo europeu voltou a ser vítima dos tambores da guerra. A exemplo de 1939 alguns quiseram fazer de Chamberlain mas só um quis ser Hitler. Um Estado soberano, como a Ucrânia, voltava a ser vítima de uma agressão, depois da aventura da Crimeia em 2014.
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A NATO e a União Europeia começam a compreender que, afinal, a nova Guerra Fria vai ser mesmo mais quente e a primeira ronda negocial na fronteira da Bielorrússia evidenciou isso mesmo. Putin pediu um acordo onde a Ucrânia seja neutra (sem NATO e UE), "desnazificada" (isto é sem Zelensky) e com o controlo da Crimeia formalmente reconhecido. Temos de convir que não é pouco se tivermos em consideração o impacto das sanções económicas sobre os interesses russos e dos oligarcas. Ao mesmo tempo países como a Finlândia ou a Suécia são ameaçados numa lógica difícil de compreender. Uma coisa parece certa: o Mundo mudou mesmo e já não precisa da pandemia para o justificar.
Alguns autores das relações internacionais dizem que, para entender Vladmir Putin, é preciso ler Fiódor Dostoiévski e voltar ao século XIX para ver a descrição feita da alma russa por um dos seus mais célebres autores.
No seu livro "Os irmãos Karamazov" ele ensina-nos a ideia de que "o ser humano é vasto, demasiadamente vasto" e isso Putin já compreendeu quando se assume como um novo czar e que, no entender de Madeleine Albright, o leva a cometer um erro histórico. Nuns dos seus muitos encontros com Putin ela descreveu-o como alguém que "era pequeno e pálido" com um assumido desejo revisionista da história.
Acontece é que a história se continua a mover e até Viktor Orbán compreende, neste contexto, a importância da NATO e da União Europeia.
Este tem sido o maior apelo que o Mundo tem reclamado e os refugiados ucranianos estão a sentir quando chegam às fronteiras da UE.
Não sabemos como tudo isto vai evoluir, mas sabemos que uma segunda Guerra Fria será muito mais exigente para todas as potências.
Uma coisa parece certa, a luta será, tal como noutros tempos, entre quem acredita na democracia e na liberdade contra quem despreza os direitos humanos e a liberdade de cada um de nós.
Num Mundo multipolar não existe lugar para as potências que querem exercer a sua influência da mesma forma como, no passado, o faziam as potências coloniais.
A teoria do espaço vital teve o seu sentido noutro Mundo. Neste momento, só apetece dizer como outros diziam aos americanos, no Vietname, go home.
Professor universitário de Ciência Política