Estamos a chegar ao fim de um ciclo de impasse motivado pelas eleições legislativas de 30 de janeiro. Curiosamente, não foi por causa da necessidade de encontrar uma solução governativa mas, antes, pela repetição das polémicas eleições do ciclo da Europa.
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Nesse entretanto o Mundo voltou a mudar. Se estávamos num ambiente de pandemia da covid-19, a invasão da Ucrânia, pela Rússia, provocou uma grande instabilidade na segurança de todos nós.
Muito em breve vai tomar posse o Governo, de maioria absoluta do Partido Socialista, o que quer dizer que o novo ciclo será de muita exigência para todos os atores políticos.
Desde logo, para o presidente da República, que terá de articular a sua ação política, de zelar pelo bom funcionamento das instituições, com o equilíbrio dos seus poderes constitucionais. A elasticidade dos mesmos vai obrigar a estar atento ao modo como o Governo se vai relacionar com o Parlamento e de que forma irá realizar as reformas que o país exige e o novo contexto externo obriga.
O Governo, por seu lado, terá de estar preparado para esse tempo de mudança. A primeira nota será na forma orgânica como se vai apresentar aos portugueses com novos responsáveis e mais operacional na sua composição.
A oposição vai encontrar, no Parlamento, a sua forma de se relacionar com a nova maioria. À Esquerda, quer o Bloco quer o PCP, terão a vida difícil pela nova conjuntura e pela reduzida expressão dos seus grupos parlamentares. À Direita, surgem partidos para quem esta mudança não foi benéfica. Os seus discursos populistas e de rutura implicam prudência.
Resta o PSD cuja nova situação de crise parece abrir uma janela de oportunidade. O eleitorado moderado, adepto de reformas, vai estar atento ao modo como se vai apresentar no Parlamento. É certo que está num tempo de mudança de líder que pode nem ser um deputado. Contudo, a agenda política vai permitir fazer um discurso alternativo no domínio do reforço das ideias de alinhamento, quer com a União Europeia quer com a participação na NATO. Ao mesmo tempo, pode retirar espaço político aos partidos parlamentares assumindo-se como uma verdadeira Oposição ao Governo. Temas não faltam, desde a revisão das leis eleitorais até à reforma do SNS, das temáticas da Europa até às políticas de defesa e segurança, da criação de emprego a uma política de rendimentos, para a distribuição de riqueza, com as questões sociais presentes.
Estamos num tempo de Quaresma, resta esperar que o PSD ressuscite e se afirme como uma verdadeira Oposição. A nossa democracia representativa precisa disso e, também, o Governo.
*Professor universitário de Ciência Política