Em política e na democracia é fundamental ter uma Oposição que saiba estimular o Governo e obrigar este, no seu quotidiano, a fazer melhor pelo país.
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Esta é uma situação que ganha particular destaque quando se discute uma nova liderança no maior partido da Oposição.
No PSD vai-se definir muito do que será a Oposição, no futuro, ao Governo. Estão, claramente, à escolha dos militantes sociais-democratas duas linhas de fazer política de oposição ao Governo de António Costa. Estamos perante diferentes abordagens. Uma mais preocupada com o interior do PSD e mais centrada para um conjunto de situações típicas de um partido "catch-all". A outra mais preocupada em fazer oposição, de imediato, ao Governo e de maior abertura à sociedade civil.
Nesta dicotomia Governo-Oposição joga um papel relevante a sociedade civil no que representa de se ir de ao encontro das associações patronais, dos sindicatos, das universidades ou das instituições sociais. Esta sociedade civil em Portugal tem fama de ser pouco ativa, muito dependente do Estado e com pouca iniciativa inovadora.
Graças à guerra entre a Ucrânia e a Rússia o Governo goza da possibilidade de dar um maior destaque à política externa no que ela representa de opções entre a União Europeia e a NATO e as respetivas consequências.
Assim, Portugal, representado pelo presidente da República, em Timor, e pelo primeiro-ministro, na Ucrânia, tem estado mais preocupado com o nosso papel no Mundo, ajudando, diga-se e bem, esses estados.
Na política interna, o Governo refugia-se que não tem ainda orçamento e, dessa forma, adia outras respostas que o país anseia.
De volta à Oposição, espera-se que as eleições para a liderança do PSD tragam, de novo, o partido para o seu papel de alternativa política. A próxima liderança deve ter iniciativa reformadora e não ter receio de liderar a agenda política. Não pode preocupar-se com o Chega ou com a Iniciativa Liberal cuja agenda a crise mostrou ter ficado, de repente, vazia de causas.
Será, pois, no centro do sistema político que, de novo, se vai discutir as alternativas de Governo e a capacidade de fazer diferente. O PSD e a nova liderança devem compreender que a Constituição de 1976 necessita de uma revisão que permita a sua modernidade, que o SNS precisa de mais gestão e o envelhecimento da sociedade implica novas respostas sociais. Ao mesmo tempo torna-se necessário ser inovador numa política de rendimentos que permitam salários mais competitivos e empregos com mais valor acrescentado.
O tempo exige um líder na Oposição diferente do perfil do chefe de Governo. Alguém que não tenha medo de propor aos portugueses e às portuguesas uma maneira diferente de fazer política. Com mais coragem e mais risco de reformas.
Professor universitário de Ciência Política