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Estudantes, professores e investigadores da minha universidade levantaram a sua voz fazendo circular um abaixo-assinado contra os crimes de guerra cometidos pelo Governo de Israel em Gaza. Acompanho as preocupações dos seus subscritores.
Não pode haver dúvidas na condenação, com veemência, do ataque terrorista do Hamas de dia 7 de outubro de 2023, particularmente bárbaro. Como é necessário ser radicalmente intolerante com todas as manifestações de antissemitismo. Mas a guerra que temos testemunhado, em que o uso da violência é indiferente às vítimas que provoca entre a população civil palestiniana, que passa pela destruição total de Gaza, física e humana, é inaceitável sob todos os pontos de vista. O que está em curso em Gaza é uma resposta militar desproporcionada, que ignora todas as convenções internacionais, que é surda a todos os apelos de cessar-fogo, até aos que chegam do povo e das instituições israelitas.
Levamos anos a construir instituições, edifícios, casas, organizações, como hospitais, escolas e universidades, tribunais, museus e salas de cultura. Levamos anos a investir, a construir e a desenvolver. Levamos anos a cuidar, a proteger, a educar e formar as novas gerações. Num ápice, pela loucura da guerra, tudo fica reduzido a nada. Tudo se perde. Em Gaza, nada nem ninguém está protegido da violência da guerra. A ela não escapam as crianças e os jovens, não escapam as instituições que cuidam, como os hospitais, não escapam as instituições que ensinam, como as escolas e as universidades, não escapam as instituições que prestam ajuda humanitária. Não há saídas em Gaza. Apenas destruição e morte pela guerra ou pela fome. Um desastre que não podemos ignorar.
Apesar de ser grande o sentimento de impotência perante tal desastre, devemos afirmar com clareza que estamos do lado da paz, do lado dos valores da tolerância, da liberdade e da democracia. Na minha universidade, muitos professores, investigadores e estudantes, bem como o Governo da instituição, estão disponíveis para, preferencialmente com a colaboração das autoridades nacionais, acolher, apoiar e integrar estudantes, investigadores e académicos palestinianos que procurem refúgio e continuidade dos seus percursos académicos. Disponíveis para lhes proporcionar algum horizonte de esperança, como num passado recente fizemos com jovens vindos da Síria e do Afeganistão.
É mesmo o mínimo que podemos fazer para ajudar a compensar a destruição total, pelo Governo de Israel, das instituições palestinianas de Ensino Superior. Uma destruição demasiado parecida com as queimas de livros por todos os autoritarismos para poder ser ignorada.