Uma semana após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a guerra mostra a sua face mais terrível. Depois da guerra civil da Jugoslávia, a Europa sente, de novo, a tragédia dos refugiados a fugir por causa das bombas e dos mortos sem sentido.
Corpo do artigo
Depois de 1989, a ordem europeia é posta em causa, pelo que Tolstoi nos ajuda a concluir, numa leitura da "história de um ponto de vista universal, estamos incontestavelmente persuadidos da existência de uma lei eterna que preside aos acontecimentos. Mas ao considerá-la de um ponto de vista pessoal, convencemo-nos do contrário".
A diplomacia parece estar a falhar depois de encontros inconclusivos entre os beligerantes. De um lado, um líder russo a procurar recriar o esplendor de um império que se perdeu no tempo. De um império que encontra a sua motivação num nacionalismo que vive da sua metamorfose em várias formas de ideologias. Do outro, uma nação que chegou à independência e que pretende defender a mesma a qualquer preço.
No meio disto tudo está a União Europeia e a NATO. Putin evidencia que para ele é tudo igual. Provoca com exercícios militares e ameaça com uma guerra nuclear. Interpreta as sanções económicas como uma declaração de guerra. Afinal, se adaptarmos a sua ideia de uma operação militar especial às dificuldades criadas à economia russa, nada mais são do que uma operação económica especial.
Ameaça nações soberanas e membros da UE como a Finlândia e a Suécia, procurando condicionar as suas decisões. Está, pois, em causa a segurança da Europa e uma ordem criada após a queda do muro de Berlim. O Mundo vai ficar outra vez diferente e, quem sabe, com uma cicatriz de confiança entre os estados democráticos com a Rússia.
A Europa ficou mais sólida porque agora até a Suécia e a Finlândia querem entrar na NATO. A Dinamarca quer alterar a sua política de defesa.
Putin acabou, pelo medo, de juntar os europeus e colocar em crise os discursos dos partidos de extrema-direita sobre a União Europeia.
A relação entre a Europa e a Rússia não voltará a ser igual porque, desta vez, Putin trouxe a guerra. A China não deve ter gostado nada disto até porque vai também sofrer as consequências desta atitude sem sentido. O ataque às centrais nucleares ucranianas e os bombardeamentos sobre civis evidenciam alguma dose de loucura que só encontrávamos nas páginas da história sobre o Blitz de Londres.
Afinal, Putin precisa de ler o clássico de Tolstoi "Guerra e paz" e meditar sobre porque se mataram uns aos outros milhões de homens quando é certo que desde que o Mundo é Mundo se sabe que, quer do ponto de vista físico quer do moral, isso constitui uma má ação.
*Professor universitário de Ciência Política