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São bem conhecidos os três grandes desafios europeus: as transições ambiental e digital e as alterações demográficas, sendo já omnipresentes os seus impactos e condicionamentos no nosso quotidiano. São também desafios aos modelos como as organizações, públicas e privadas, se estruturam num contexto de maior complexidade e de tendências contraditórias. Se o digital leva as nossas sociedades e as suas interações, pessoais, institucionais e corporativas, para dimensões mais impessoais e imateriais, o compromisso com o ambiente, a sustentabilidade e a descarbonização fixam-nos a um território concreto, onde as coisas acontecem, onde as pessoas vivem, trabalham e convivem - onde as pessoas estão e se realizam, como habitantes ou visitantes.
Estes desafios, as necessidades e as vontades dessas pessoas e a consequente atratividade dos respetivos territórios exigem respostas cada vez mais “à medida” e cada vez mais integradas. Isto é, de maior proximidade, caráter e complexidade, sendo, também por isso, mais eficazes e competentes. Nas políticas de desenvolvimento, não existem fatos de tamanho único.
A preservação ambiental (conceito sujeito a diferentes ideários) não é, por exemplo, pensável sem a presença de comunidades, de pessoas concretas, essenciais ao metabolismo dos ecossistemas, o que reclama a viabilidade dos nossos agrossilvopastoris, necessariamente humanizados.
O ambiente, a gestão do território e o desenvolvimento social e económico exigem abordagens integradas e com especificidades locais. Também os espaços urbanos, onde os problemas sociais são mais agudos (e escondidos), exigem abordagens a que nenhum setor das tradicionais organizações governamentais consegue responder por si só. A inovação não pode deixar de estar presente nesta equação, mas interpretando a realidade sobre a qual atua. O Vale do Douro pode ser um “vale tecnológico”, mas à sua medida ou dos seus interesses.
É neste contexto que se deve situar o debate sobre a organização do Estado. Um Estado mais próximo, mais transversal na sua atuação, mais “à medida” das pessoas e dos territórios, e menos abstrato, indiferente e distante. O desenvolvimento mais harmonioso de Portugal e o encontro com o futuro que os portugueses merecem clamam por essa transversalidade, já que a organização vertical continuará a afastar-se da realidade para a qual deveria encontrar respostas. Sim, evoluir neste caminho afigura-se incontornável - chamem-lhe, ou não, regionalização.