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Há uma espécie de número mágico quando se fala de política científica, desde que a União Europeia definiu, como objetivo, investir em ciência, até 2030, um valor da ordem dos 3% do PIB. Todos os governos anunciaram objetivos semelhantes. Em Portugal, além do atual Governo, todos os partidos políticos declararam ter a mesma ambição. Assim é há muitos anos, sobretudo desde que a OCDE convencionou que esta medida resumia o esforço necessário e adequado para assegurar a existência de sistemas científicos consolidados, tendo em conta a dimensão e a riqueza dos diferentes países. Os 3% revelam uma ambição política, uma visão, e definem um objetivo.
Em Portugal, foi o então primeiro-ministro Cavaco Silva quem, em 1988, colocou na agenda política, pela primeira vez, um objetivo associado ao indicador sobre a despesa em investigação e desenvolvimento. Com a aprovação, pela Assembleia da República, da Lei n.o 91/88, de 13 de agosto, previu-se que, no prazo de dez anos, em 2000, Portugal atingiria a meta de 2,5% do PIB de investimento em ciência e tecnologia.
Estávamos no início dos tempos de acesso aos fundo europeus. E a ciência teve, nesse acesso, lugar privilegiado, com programas próprios e específicos: Ciência, STRIDE, PRAXIS XXI, POCTI e POSI. O investimento em ciência em percentagem do PIB passou a ser a medida da nossa ambição, do progresso conseguido, mas também das dificuldades em atingir o objetivo de construir um sistema científico integrado, em pé de igualdade com os de outros países, na União Europeia.
Hoje, o investimento em ciência e tecnologia ainda não atingiu o objetivo “sonhado” em 1988, para 2000. Os resultados do último Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico, de 2022, revelam que a despesa em investigação e desenvolvimento se situa em 1,7% do PIB. Apesar disso, os progressos alcançados na construção do sistema científico nacional foram muito significativos. Construir e desenvolver o sistema científico, isto é, criar condições para a produção de ciência e de conhecimento, é um processo sempre inacabado, um caminho que exige persistência, resiliência e atualização permanente dos objetivos e dos esforços a realizar.
O investimento em ciência é, em todos os países, uma condição do seu desenvolvimento, da melhoria das condições de vida dos cidadãos e do progresso. É um desígnio que todos os governos e políticos proclamam, conscientes de que a resolução dos problemas das sociedades contemporâneas exige mais e mais conhecimento, mais e mais capacidade de inovação, mais e mais recursos humanos qualificados.