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Custa perder com quer que seja, mas custa, ainda mais, perder com os do costume. Ainda por cima quando parecia que até estávamos a jogar bem. Custa-nos menos perder com o Elvas do que com o Benfica. Nós somos assim. Podemos estar no pior dos cenários, mas achamos que a redenção está sempre em ganhar aos “grandes” e não em humilhar os pequenos. Há algo de (puramente) Robin dos Bosques no nosso sentimento. De profundamente cristão, igualmente. O day after da derrota é constrangedor. E assim o foi depois do 0-3 com a equipa lisboeta. Levantas-te e reparas que há qualquer coisa de errado. Um incómodo. Esse sentimento é importuno e exige a mudança de chip. Foi assim que encarei o dia de Páscoa. Levantei-me para fazer a caminhada matinal e, devido ao tempo instável, tive de pegar no meu impermeável do Vitória. Após a derrota que queres “olvidar”, exibir o nosso símbolo não é a melhor das ideias. Mas é bonito. Fui caminhando perdido em pensamentos pequenos e realidades acessórias. O dia cinzento tinha algum sol escondido. Durante a caminhada fui interpelado três vezes, em Esposende, por vitorianos que fizeram questão em me saudar. Não conhecia nenhum. A camaradagem na derrota é importante. Qualquer um dos vitorianos que me abordaram estavam irmanados com o meu gesto, acharam-no um ato de fé, quando era apenas um gesto utilitário. Um deles apitou tanto que parecia estar num casamento e eu era uma espécie de noivo. E, assim, irmanados, tudo se reconstrói e fica mais leve. O Vitória é, fundamentalmente, isso.