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Os acontecimentos recentes, envolvendo a Faixa de Gaza e Israel, vieram colocar na geopolítica internacional um velho conflito entre povos. Depois do ataque da Rússia à Ucrânia somos confrontados com uma nova agressão envolvendo um Estado e um espaço geográfico dirigido por uma organização, por muitos, considerada terrorista.
O Mundo está assim a ser confrontado por aquilo que Samuel Huntington chamava o “choque das civilizações” que procura criar uma ordem mundial rejeitando aquela que tem sido consensual desde o final da II Guerra.
Em primeiro lugar, o Direito Internacional que é colocado em causa seja na sua forma de direito humanitário ou direito penal. O secretário-geral da ONU não tem condições para fazer ouvir a sua moderada voz porque o modelo atual protege as grandes potências, que, de qualquer forma, manifestam interesse pelos problemas em análise.
Ali, na Faixa de Gaza, está a discutir-se muito do futuro do nosso Mundo. Desde logo, a Arábia Saudita que pode sofrer um travão aos seus desejos de ser um destacado ator regional. Depois, a Jordânia que necessita de não se esquecer do seu passado e da sua relação com a Palestina. Desde 1973 que não existia um conflito tão pronunciado nesta região. Nesse período, várias administrações americanas trabalharam para se poder criar um Estado palestino e um reconhecimento mútuo do Estado de Israel. Agora o que está em causa é não deixar morrer todos os esforços de paz e de acordos para a região como parece ser a preocupação do Egito ao assumir uma postura moderada.
Neste tempo em que a ordem internacional está a ser posta em causa por estados responsáveis, como a Rússia, temos de ter a preocupação de melhorar o sistema internacional do direito e da resolução dos conflitos.
A barbárie que os israelitas sofreram no ataque do Hamas e o flagelo dos habitantes de Gaza mostram que os civis inocentes não podem ser arrastados para escudos humanos de dirigentes que só conhecem a linguagem da guerra e da destruição.
A comunidade internacional tem de encontrar um consenso assente nos princípios da lei e da saudável convivência entre povos que permita trazer um novo paradigma nas relações internacionais. Sabemos que estados como o Irão e a Coreia do Norte precisam de ser enquadrados ao mesmo tempo que outros como o Líbano estão sequestrados por milícias ao serviço da violência gratuita. Nas nossas comunidades vivem imensas pessoas cuja convivência pode ser ameaçada por forças extremistas que vão ganhando espaço e expressão política.
Acima de tudo contínua o confronto entre a ideia liberal de democracia e do respeito pelo Direito Internacional com aqueles que defendem o direito da força e a ditadura das ideias.
Neste conflito não existem inocentes, antes povos a quem não é permitido viver em paz observando o cumprimento dos direitos humanos.