Legislativas: o novo desporto-rei?
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Portugal atravessa uma fase de instabilidade política sem precedentes, caracterizada por sucessivas eleições e uma incerteza que mina a governabilidade do país. Nos últimos três anos, os eleitores foram chamados às urnas três vezes para eleições legislativas. Agora o país enfrenta uma campanha eleitoral contínua, que paralisa a política nacional, desgasta o eleitorado e alimenta a abstenção.
Esta crise política desenrola-se num contexto internacional marcado por uma forte tensão. A guerra comercial entre os EUA e a União Europeia intensifica-se, com Washington a impor taxas de 25% sobre o aço e o alumínio, enquanto Bruxelas responde com tarifas no valor de 26 mil milhões de euros. Esta escalada protecionista contraria os princípios da vantagem comparativa, defendidos por David Ricardo no século XIX, prejudicando o crescimento económico e, inevitavelmente, a qualidade de vida dos cidadãos.
Internamente, vários dossiês estruturais ficam pendentes. O PRR, uma oportunidade de ouro para a modernização do país, regista uma execução de apenas 32%, muito aquém dos mais de 70% alcançados pela França e Alemanha. A instabilidade governativa a que assistimos compromete ainda mais a sua implementação antes do prazo final de 2026. No Ensino Superior, a revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, prevista para 2012, continua por concretizar, restringindo o desenvolvimento e autonomia das universidades.
Perante vários desafios políticos e económicos, Portugal anda entretido com o seu novo “desporto-rei”: eleições legislativas, colocando em causa as reformas estruturais tão necessárias para o país e a própria credibilidade internacional.