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Em conversa com uma jornalista, amiga que muito prezo, disse-me que os cursos de licenciatura eram uma licença para continuar a estudar sozinho. Não posso estar mais de acordo. Não só pelo princípio geral, como por duas razões que destaco.
Primeira razão, sobre a necessidade de formação ao longo da vida. A formação superior na Europa organiza-se em torno de dois princípios. O princípio da mobilidade que, através da acumulação de créditos ECTS, permite aos estudantes transportarem consigo uma espécie de passaporte de formação reconhecida em qualquer universidade europeia. O princípio da recorrência, isto é, a possibilidade de retomar processos de formação para atualização, aprofundamento ou alargamento de conhecimentos ou competências. Estamos, portanto, muito longe do modelo do passado, em que se faziam cursos de licenciatura muito longos (cinco ou seis anos), que duravam para a vida inteira. Hoje, o mais comum é fazer-se uma licenciatura curta (três anos) e ir fazendo formações mais curtas ao longo do percurso profissional, para especialização ou diversificação de competências, em função das oportunidades de carreira ou dos interesses que cada um vai desenvolvendo. Por isso se diz que a licenciatura é uma licença para continuar a estudar.
Segunda razão, sobre a relação entre formação e profissionalização. A maioria das áreas de formação inicial não têm correspondência linear com uma profissão específica. No geral, qualquer formação superior oferece possibilidades muito diversas de exercício e percurso profissional. O mercado de trabalho, público e privado, evolui com a existência de mais pessoas mais qualificadas e com mais competências, gerando-se dinâmicas tecnológicas e organizacionais, novas necessidades, que não é possível antecipar. Por isso se diz muitas vezes que o mais importante no Ensino Superior é aprender a aprender, é adquirir competências que permitam procurar e mobilizar informação e conhecimento para a resolução de problemas novos. E não, como muitas vezes no passado, treinar apenas a resolução de problemas cuja solução já conhecemos.
Esta semana, em que milhares de jovens se inscreveram em cursos de licenciatura, iniciando uma nova etapa da sua formação, vale a pena refletir sobre o que isso significa. Agora e para o seu futuro. Tendo em conta a necessidade de responder a necessidades sempre mutáveis do mercado de trabalho, mas também à curiosidade dos jovens por todas as áreas de formação. Não há conhecimento inútil. Importa que permita continuar a estudar sozinho.