Corpo do artigo
No último fim de semana um conjunto de pessoas, das mais variadas áreas políticas e profissionais, juntaram-se, entre Vila Real e Sabrosa, para homenagear um daqueles raros e singulares portugueses que temos o privilégio de conseguir conhecer.
Falamos do médico Luís Roseira que foi também um agricultor, um defensor do Douro, um político ou, simplesmente, um Pai.
Fazia este ano 100 anos, tal como o seu grande amigo Mário Soares. Teve um passado de luta contra a ditadura do Estado Novo e foi uma espécie de João Semana que soube estar com os mais pobres quando não havia SNS. Participou em todas as lutas para libertar os agricultores durienses dessa aberração que era vender o seu vinho do Porto através dos exportadores de Vila Nova de Gaia.
Luís Roseira foi um cidadão que soube preencher todas as condições de quem gosta de participar na vida da sua comunidade. Deputado, por Vila Real, à Assembleia Constituinte, em 1975, saiu porque intuía que António Barreto, que o vai definir como um “vinhateiro anarquista”, seria muito mais importante para o futuro da agricultura em Portugal. Combateu a macrocefalia de Lisboa, antes do 25 de Abril de 1974 e depois. Sentiu a perseguição da PIDE, mas também soube afastar-se do PS e embarcar na aventura dos reformadores com António Barreto e Medeiros Ferreira.
Na homenagem estava gente do Partido Socialista, mas também estavam pessoas oriundas de áreas políticas, como o CDS, PSD ou o PCP. Estavam pessoas de várias gerações que tiveram o privilégio de ter convivido com ele. Todos aqueles que participaram nesta homenagem fizeram-no sem qualquer interesse ou obrigação porque ele era um homem livre na verdadeira aceção da palavra.
Conheci-o quase no final da década de 80 do século passado e, desde logo, ficamos amigos. A diferença de idades não era um obstáculo. Ambos tínhamos o prazer de gostar de ajudar o outro, de apoiar o Hospital de Santo António e sabíamos como era importante ser livre e independente. Foi através dele que conheci o dr. Mário Soares.
Luís Roseira sabia encarnar o valor da liberdade e o seu eterno Douro era a região que o fazia mover convicções e esperanças. Como homem soube amar, casou três vezes, vi os seus filhos chorar por ele e os amigos a contarem episódios de vida que só quem os viveu compreende a sua relevância.
Gaspar Martins Pereira tentou condensar num livro que titulou “Luís Roseira - Douro e Liberdade” esta história de vida de um homem que ajudou, em 1973, a fundar o Partido Socialista.
Foi alguém que nunca se importou com o aspeto material da vida. Esta homenagem procurou, numa mensagem simples, dizer às novas gerações que vale a pena lutar pela liberdade, gostar de defender as nossas convicções e, acima de tudo, saber viver com tolerância e amizade.
Parabéns, Luís Roseira, pelo teu exemplo.