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Mário Soares faria cem anos no dia 7 de dezembro. As comemorações do seu centenário iniciam-se hoje, na cidade do Porto, com a inauguração de um jardim, que terá o seu nome, e a abertura de uma exposição em Serralves, que mostrará a sua ligação à cultura e às artes. Como ele bem explicou, o interesse pela cultura determinou o modo como fez política, ensinou-lhe o respeito pelo trabalho dos outros, a tolerância e a liberdade.
A vida de Mário Soares confunde-se com a vida política do país, como se de uma história só se tratasse. Uma vida longa e intensa, com uma constante, a defesa da liberdade, da liberdade dele e da nossa liberdade.
Mário Soares teve a felicidade de ver o país progredir, em liberdade, com a sua ação. Nos últimos 50 anos, melhoraram muito as condições de vida dos portugueses. Na habitação, na saúde, na segurança social e na educação, na ciência e na economia, nos meios de comunicação, nas oportunidades para as novas gerações, na solidariedade para com os mais velhos, na participação e na liberdade de expressão nada é como dantes. O país progrediu e modernizou-se em resultado da vontade e do trabalho de muitos portugueses de várias gerações, mas também em resultado da ambição e da ação governativa de políticos, de entre os quais se destaca Mário Soares.
Na fase final da sua vida percebeu bem que a atividade política enfrentava novos obstáculos que punham em risco a democracia. A desvalorização das medidas concretas da ação política, ou dos seus impactos na vida das pessoas, a ilusão de que a construção do país é um processo espontâneo, e não o resultado de escolhas, de investimentos, de definição de objetivos e de prioridades constituem obstáculos sérios ao funcionamento da democracia. Essa desvalorização facilita o caminho de representações negativas sobre a atividade política e destrói a imagem dos que se dedicam à causa pública.
Contra esta tendência, Soares, na campanha de 2006, declarava: “sou um político e não me envergonho de ser um político”. E, em 2009, num pequeno livro, “O elogio da política”, dedicado especialmente aos jovens, afirmava: “a consciencialização da importância da Política (com P grande), defensora dos valores humanistas, das grandes causas, respeitadora das regras éticas, da justiça e ao serviço das pessoas, será a melhor alavanca para conseguir que o século XXI traga, finalmente, uma nova ordem mundial, de paz, de liberdade, da igualdade possível e do bem-estar para todos, no respeito pela natureza e pela dignidade de todos os seres humanos”.