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Ao longo da campanha eleitoral permanente, em que temos estado nos últimos anos, a saúde é tema recorrente. Os que têm responsabilidades governativas procuram apresentar argumentos do trabalho feito, os que estão na oposição procuram evidenciar o que não foi feito ou o que foi mal feito. Em ambos os casos, escudados naquilo que qualificam como opções políticas.
E nós, os cidadãos – doentes, clientes ou utentes do sistema e do Serviço Nacional de Saúde –, lá vamos entrando nesta dialética, apoiando uns e contestando outros, convencidos de que esta é uma das grandes áreas em que o voto pode condicionar o que achamos serem as melhores políticas e, dessa forma, a melhor prestação de cuidados que nos pode ser disponibilizada.
Pura ilusão, que resulta de as coisas não estarem a correr muito mal: os principais indicadores comparam razoavelmente bem com os demais países com quem faz sentido comparar e, inquestionavelmente, há, ao longo das últimas décadas, uma evolução notável nos resultados e, sobretudo, uma melhoria no acesso das populações aos cuidados de saúde de que necessitam.No entanto, algumas nuvens negras têm-se vindo a formar no horizonte e a tempestade pode estar a vir por aí e, desgraçadamente, tornar-se perfeita, desde logo devido à insustentável taxa de crescimento dos recursos coletivos que estamos a afetar a esta área: nos últimos dez anos, quase duplicaram! Serão no ano que corre da ordem dos 17 mil milhões de euros.
O tema merece cada vez mais preocupação, tanto cá como na generalidade dos países com sistemas nacionais de saúde estruturados, e alguma coisa vai mesmo ter de mudar.
Não há, obviamente, uma bala de prata, mas julgo que será fundamental percebermos que na sua essência o tema de político tem muito pouco – diria que, para além da decisão anual de qual a fatia do Orçamento do Estado a afetar a esta área, muito pouco restará –, sendo, cada vez mais, técnico. E sendo técnico, importa adotarmos o estado da arte global assegurando a capacidade de medir, monitorizar e avaliar cada decisão, mesmo as que, erradamente, na minha humilde opinião, temos vindo a chamar de políticas públicas. O que se trata é de gerir enormes e avultados recursos humanos, tecnológicos e financeiros onde ou nos valemos dos melhores, auxiliados pelas mais modernas e mais testadas ferramentas para o efeito, ou a coisa vai correr mal.
Na realidade nacional, esta seria também a via da concretização do necessário consenso e da retirada deste tema da querela político-partidária que tanto mal lhe está a fazer.
Demagogia barata, como dizer que é a vitória da tecnocracia sobre a humanização da saúde, pode sempre vir por aí. Mas o que eu quero, mais uma vez como cidadão e utilizador do sistema e do Serviço Nacional de Saúde, que todos somos, fomos, ou vamos ser, é ter os melhores e mais capazes a gerir a coisa, com visibilidade do que está a ser feito, com fundamentação clara e transparente das decisões, em particular das que são estruturantes, e com avaliação dos respetivos resultados, na ótica financeira, clínica e do utilizador final.
Talvez não seja fácil, mas a não mudança vai sair-nos muito cara!