Corpo do artigo
Foi anunciada há poucos dias a celebração de um acordo entre o Estado Português e a Indústria Farmacêutica que tem como preocupação central a sustentabilidade do Sistema Nacional de Saúde (SNS). Visa também, e cito: “garantir o acesso ao medicamento e reforçar as condições estruturais favoráveis ao desenvolvimento económico, nomeadamente reforçando os fatores de atratividade para o investimento em Portugal”.
Boa parte do que nele está coberto já vinha sendo, por instrumentos similares, regulado ao longo dos últimos anos, não havendo aí grande novidade. Há, no entanto, um avanço no melhor dos sentidos quando se alarga e se aprofunda o âmbito e a ambição desta iniciativa enquanto aceleradora e facilitadora do desenvolvimento do cluster nacional da saúde, nomeadamente nas estruturantes vertentes do investimento, produtivo e de I&D, estrangeiro e nacional.
O período mais agitado que estamos a atravessar em termos da política nacional, e não menos no contexto internacional, com as consequências que todos conhecemos no que se refere à desatenção mediática para outras realidades, terá, porventura, levado este tema para um secundaríssimo plano, o que não condiz com a importância estratégica que, julgo, o mesmo merece.
Em todo o caso, o mais importante foi ter sido possível chegar onde se chegou e, por isso, estão de parabéns e são merecedoras do nosso reconhecimento as entidades e as personalidades direta e indiretamente envolvidas, designadamente os responsáveis das áreas governamentais da Economia, da Saúde e das Finanças, bem como do INFARMED – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde I.P. e da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica – APIFARMA.
Um sublinhado especial para a dimensão desenvolvimentista do cluster nacional da saúde associada a este acordo, no que de instrumental esta implica na construção de soluções para os grandes desafios que a forte pressão demográfica, a escassez crónica de recursos humanos e a legítima procura por mais e melhores cuidados de saúde estão a impor.
Uma nota de reconhecimento às mais de cem pessoas de mais 50 associações e entidades da cadeia de valor nacional da saúde, quer do lado privado – empresarial e da ciência –, quer do lado do Estado e das suas agências, que estiveram recentemente envolvidas no grupo de trabalho Mais Economia e Saúde onde estas temáticas foram objeto de qualificadas respostas que, em boa medida, foram neste acordo inteligentemente incorporadas.
O ecossistema nacional de inovação em saúde passa agora a poder aceder a um considerável reforço de recursos financeiros, que só fica dependente, como não poderia deixar de ser, da continuação e do aprofundamento da geração de novo e bom conhecimento, como temos sabido fazer, e, sobretudo e de forma definitiva, da vontade e da determinação para darmos o salto para o difícil e exigente patamar da inovação.
No final do dia, o ponto é mesmo esse, o nosso sucesso coletivo nas indústrias da saúde, nomeadamente nas emergentes, a que alguns vêm designando por smart health, tem a sua chave e o seu elemento de diferenciação na capacidade em dominar os ciclos e os circuitos da inovação global em saúde. Embora tal possa não ser de leitura imediata, não tenho qualquer dúvida que este acordo é, definitivamente, um bom passo nesse caminho.